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Tratamento cirúrgico para epilepsia é utilizado pela primeira vez no HUGG

A epilepsia é um transtorno neurológico que causa uma alteração temporária e reversível do funcionamento do cérebro designada crise de epilepsia e atinge cerca de 1,5% da população da América Latina. Como as crises assustam, esses distúrbios vêm acompanhados de preconceito e estigma social, resultando em procedimentos inadequados que impossibilitam uma boa qualidade de vida para estas pessoas.

Dentro desta parcela da população atingida, 30% dos pacientes são resistentes ao uso de remédios anticonvulsivantes, caso mais grave do distúrbio:

- Os pacientes fármaco-resistentes não respondem à associação de medicamentos e, por isso permanecem sofrendo de crises de epilepsia. Como os anticonvulsivantes disponíveis para o tratamento agem em pontos diferentes dos mecanismos geradores das crises, primeiramente, precisa-se saber o tipo de epilepsia, para então identificar o remédio adequado. Caso o controle esperado das crises não ocorra, e com a certeza do uso correto pelo paciente, nas doses recomendadas e toleradas, pacientes com epilepsias focais selecionados podem ser submetidos a tratamento cirúrgico, conforme experiência em centros internacionais de tratamento das Epilepsias– explicou  a Professora Doutora Glenda Lacerda, Professora Adjunta de Neurologia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) e responsável pelo ambulatório de Epilepsias do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG).

E foi o que ocorreu, durante o mês de novembro, com o engenheiro Paulo (nome fictício), 30 anos, que vinha usando anticonvulsivantes há três anos:

- O Paulo estava afastado do trabalho por conta das crises de epilepsia. Por mais que se combinassem medicamentos capazes de conter episódios mais graves, ele continuava tendo muitas crises disperceptivas, que são aquelas crises focais onde o paciente tem alteração de consciência, permanecendo acordado, mas sem capacidade de interação com o ambiente ou mesmo com as pessoas à volta dele. Além disso, durante esse período ocorriam gestos automáticos, como esticar os braços e mastigar, que naquele determinado contexto, não tem propósito- continuou a docente.

 Para realização da cirurgia, que durou aproximadamente cinco horas, uma equipe multidisciplinar do HUGG formada por neurologistas, neurofisiologistas, técnicos de enfermagem, neuropsicólogos, neurocirurgiões e patologistas, atuou no caso. 

 - Inicialmente, o paciente foi analisado clinicamente no Ambulatório de Epilepsias e avaliado com uma bateria de testes neuropsicológicos. No laboratório do Centro de Epilepsias foi submetido ao vídeo-eletroencefalograma, exame que dá o diagnóstico inequívoco de epilepsia, pois filma o enfermo para registrar as manifestações fenomenológicas das crises ao mesmo tempo em que registra a atividade elétrica espontânea do cérebro. Este exame possibilitou a localização da atividade das crises no lobo temporal direito, compatível com a presença de uma lesão na mesma localização. Foi possível assim discutir uma abordagem cirúrgica com a equipe de neurocirurgia -, completou Glenda Lacerda.

Por se tratar de um diagnóstico de difícil precisão, sendo necessário realização de diversos exames e uso de equipamentos custosos, o Rio de Janeiro tem, ainda, carência nesse procedimento.

- O tratamento cirúrgico já existe há anos em outros países e em alguns centros do Brasil. Em particular, o elevado índice de sucesso das cirurgias para epilepsias de lobo temporal já está bem estabelecido. Aqui, no HUGG, foi a primeira que realizamos. A proposta do tratamento é ao longo do tempo conseguir retirar a medicação. A princípio a lesão foi totalmente retirada e ele tem uma chance alta de cura das crises de epilepsia, concluiu a responsável pelo ambulatório de Epilepsias.

Confira mais alguns tópicos sobre a epilepsia: 

 

Diagnóstico e tipos de epilepsia 

A pessoa que teve uma crise deve procurar um neurologista para descrever o fenômeno, pois existem sintomas neurológicos transitórios que não são devidos a crises de epilepsia. Outras condições como enxaqueca, síncope, doenças vasculares, transtornos do sono e mesmo quadros pricológicos podem ser confundidos com epilepsia.

Uma crise de epilepsia é caracterizada por uma fenomenologia neurológica transitória. Existem vários tipos possíveis. Desde as menores, onde o paciente apenas tem um curto rompimento de contato com a realidade, com alteração de consciência, que são as crises focais disperceptivas, até as conhecidas convulsões, crises grandes, onde o paciente pode cair no chão e perder controle de algumas funções.

 A Liga Internacional contra Epilepsia define, operacionalmente, a necessidade de ter pelo menos duas crises espontâneas não provocadas, separadas por um intervalo mínimo de 24 horas, ou ter uma crise espontânea e uma chance muito grande (mais de 60%) de se ter a reprodução dessa crise. Essa probabilidade é dada por um estudo que envolve uma gama diversificada de exames do paciente.

 Por isso, para exatidão da análise, primeiro o paciente deve passar por um interrogatório direcionado por um médico especializado em epilepsia para fazer a diagnose diferenciada.

 Em havendo dúvida ou suspeita forte de epilepsia, se faz um vídeo- eletroencefalograma. Nesse exame o paciente é admitido no Centro de Epilepsias (existente no HUGG), onde é hospitalizado por um tempo variável de observação, em que é feito o eletroencefalograma, ao mesmo tempo em que é filmado.

 

Fatores desencadeantes

Existem fatores desencadeantes de crises nos pacientes que sofrem de epilepsia, sendo o principal a privação de sono, podendo haver aumento de risco em profissionais que trabalham em regimes de turnos. O consumo excessivo de álcool, assim como a suspensão abrupta do tratamento também podem despertar crises.

 

Gravidez

 A Epilepsia na mulher em idade fértil requer cuidados. 

Diversos anticonvulsivantes têm um potencial teratogêncio, ou seja, podem causar malformações no feto ou alterações cognitivas.  Idealmente, a gravidez na mulher com epilepsia deve ser planejada para que se use a menor dose possível de um só remédio ou, em alguns casos criteriosamente selecionados, até mesmo se proponha a suspensão do medicamenteo antes da gestação.  Uma reposição de ácido fólico precoce protege o bebê. É bom também lembrar que diversos anticonvulsivantes reduzem a eficácia da pílula contraceptiva. É preciso escolher o método contraceptivo e o remédio anticonvulsivante adequado para cada mulher individualmente.
 

Risco de Morte Súbita na Epilepsia  

É muito importante para o paciente aderir ao tratamento da epilepsia de forma continuada de forma a evitar acidentes causados por perda da consciência e movimentos involuntários.  Além disto, há um risco aumentado de morte súbita entre as pessoas com epilepsia, que pode ser ou não precedida de crise.  O mecanismo desta morte súbita não é totalmente esclarecido, mas possivelmente se relaciona à influência das descargas epilépticas sobre o sistema nervoso autonômico que modula o ritmo do coração.