Talinum paniculatum (Jacq.) Gaertn.
Família: TALINACEAE
Nome científico: Talinum paniculatum (Jacq.) Gaertn.
Nome popular: major-gomes, beldroegão
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Talinum paniculatum, conhecido como beldroegão ou major-gomes, é uma planta herbácea nativa da América Tropical e que, além de medicinal e ornamental, figura entre uma das PANC de maior sucesso ente os adeptos da alimentação natural, nutritiva e alternativa às monoculturas tradicionais.
Esta espécie se caracteriza como uma planta perene, herbácea, ereta e suculenta, atingindo até 80 cm de altura, com raiz pivotante e tuberosa. Seu caule é cilíndrico, carnoso, ceroso e ereto, com folhas simples dispostas em rosetas basais cujos entrenós se alongam com o tempo, assim, as folhas passam a apresentar filotaxia helicoidal. As folhas são levemente carnosas, glabras, com curtos pecíolos, lâmina obovada com margens inteiras, base atenuada a cuneada e ápice obtuso ou arredondado. Suas flores estão agrupadas em densas inflorescências tipo panícula, desenvolvidas na extremidade de um escapo floral característico, o que facilita em muito sua identificação quando fértil. As flores são pequenas, pedunculadas, cálice com duas sépalas e corola pentâmera, dialipétala, de cor geralmente rosada, mas podendo ocorrer em tons amarelados ou avermelhados. Filetes, estilete e estigma róseos, anteras e ovário amarelos. As flores são delicadas e a inflorescência é bastante interessante do ponto de vista ornamental. Seus frutos são pequenos, tipo cápsula, globosos, de cor vermelha em diferentes e brilhantes matizes; sementes pequenas e pretas, também brilhantes.
Na medicina tradicional, o Talinum paniculatum é indicado para o tratamento de doenças de pele, como afecções e feridas, apresentando propriedades adstringentes, bactericidas e emolientes, devido à mucilagem presente em suas folhas. Na culinária, o sabor suave e o alto teor proteico e mineral de suas folhas (principalmente ferro, potássio, magnésio, cálcio e zinco) fazem desta espécie uma PANC das mais populares, sendo considerada uma excelente hortaliça: pode ser consumida in natura, em saladas ou no preparo de sucos verdes; cozida ou refogada, como uma espécie de espinafre, e utilizada como recheio de tortas, omeletes e pastéis, ou no preparo de patês, cremes, sopas e pães.
Além das suas propriedades medicinais e alimentícias, o Talinum paniculatum é uma espécie ruderal, desenvolvendo-se facilmente em beiras de estrada, terrenos baldios e áreas agrícolas, onde é considerado uma erva daninha, com potencial altamente invasor. Introduzida no continente africano como planta ornamental e alimentícia, espalhou-se rápida e agressivamente por toda a África Tropical, principalmente na Nigéria. Mesmo assim, a despeito do seu comportamento invasivo, é cultivada como ornamental e suas sementes são muito comercializadas1, tanto aqui como em outros países.
O nome do gênero, Talinum, possui uma etimologia pouco clara. Na literatura taxonômica, há suposição de que derive originalmente do grego Θάλεια (thaleia) que provém de Θαλλω (thallos) e significa algo como "brotar abundantemente" ou "florescer". Seu epíteto específico, paniculatum, é uma referência à panícula, o tipo de inflorescência da espécie. A palavra panícula deriva do latim pannicum, que significa "milho": as inflorescências semelhantes àquelas que carregam as flores masculinas do milho passaram a ser chamadas de panículas.
Seu nome popular, major-gomes, remonta à época do Brasil Império, mais precisamente, em 1861. Na ocasião, a Floresta da Tijuca estava devastada em grande parte da sua extensão pelo avanço da lavoura cafeeira, o que acabou causando uma crise de abastecimento de água na capital do Império, a cidade do Rio de Janeiro. A fim de reverter a falta de água, o imperador D. Pedro II nomeou o Major Manuel Gomes Archer como Administrador da Floresta e responsável pelo seu replantio. Ao longo de 12 anos, mais de 100 mil mudas de diversas espécies, principalmente espécies nativas, foram plantadas na Floresta da Tijuca tornado-a o que é hoje: a maior floresta urbana do mundo. Por conta de alguma homenagem ou associação não encontrada na literatura consultada, o Talinum paniculatum acabou ficando conhecido popularmente pelo nome do Major que comandou a bem sucedida empreitada.
Ao redor do mundo, no entanto, esta espécie é conhecida como joia-de-opar (jewel of Opar), um nome poético com origem um tanto inusitada. Opar é uma cidade fictícia, ornamentada com minaretes e domos de ouro, tesouros e pedras preciosas, localizada num vale perdido nas profundezas da selva africana; foi criada pelo romancista Edgar Rice Borroughs para ambientar uma aventura de Tarzan2, o rei da selva, escrita em 1915. Tarzan descobre Opar e seus tesouros e, entre uma aventura e outra, acaba sempre voltando para esta cidade a fim de reabastecer sua fortuna. O nome joia-de-Opar é uma referência à semelhança que os frutos do Talinum paniculatum e suas diferentes matizes vermelhas têm com os rubis, pedras preciosas extremamente raras e valiosas.
Talinum paniculatum, do brasileiro major-gomes às internacionais joias-de-opar. Uma história que liga a imperial, deslumbrante e carioca Floresta da Tijuca até a fictícia, opulenta e africana Opar. Joias vermelhas agrupadas em panícula. Rubis maduros que guardam sementes de uma planta resistente e de beleza singular. Tesouros da biodiversidade que podem estar esperando para serem descobertos à beira de uma estrada qualquer...
Autoria: Sandra Zorat Cordeiro (2020)
NOTAS
1 - Cartaz anunciando a venda de sementes de Talinum paniculatum por empresa norte-americana:
2 - Capa da versão e-book de "Tarzan e as Joias de Opar", lançada em 2011, do original de 1915, de E.R. Borroughs:
** Nossos agradecimentos à Dra. Ísis Medri pela belíssima imagem de Talinum paniculatum no seu habitat natural.
Biovert. Obrigado, Major Archer. Disponível em: http://www.biovert.com.br/obrigado-major-archer/. Acesso em: 01 Dez. 2020.
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