Anredera cordifolia (Ten.) Steenis
Família: BASELLACEAE
Nome científico: Anredera cordifolia (Ten.) Steenis
Nome popular: bertalha-coração
Fotos: Ricardo Cardoso Antonio
Foto: Forest e Kim Starr / Creative Commons BY
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Foto: John Tann from Sidney, Australia / Creative Commons BY
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Foto: Matheus Gimenez Guasti
Anredera cordifolia, a popular bertalha-coração, é uma espécie neotropical, nativa do Brasil, mas não endêmica, naturalizada em quase todo o mundo e, embora muito ornamental, é vista com justificada desconfiança por ser considerada daninha e extremamente invasora. Ultimamente, vem se tornando mais popular devido ao movimento PANC, onde se tornou uma das "estrelas", sendo usada na alimentação humana por ser uma espécie prolífica, com alta produção de biomassa e alto valor nutricional.
Também conhecida como madeira vine (videira da madeira), a bertalha-coração se apresenta como uma trepadeira rizomatosa, de crescimento rápido, de aspecto rústico e muito ramificada; seus ramos se entrelaçam e criam um emaranhado de caules e folhas em qualquer lugar onde se desenvolva. Seu caule é suculento, fino, geralmente de cor avermelhada, volúvel, sinistrorso, e atinge até 6,0 m de comprimento. De filotaxia alterna, suas folhas são semi-suculentas, glabras, de cor verde-brilhante, e podem seu sésseis ou com pecíolos muito curtos; possuem formato oval, levemente lanceolado ou cordiforme, com ápice agudo e base cordada ou subcordada. A Anredera cordifolia ainda apresenta tubérculos axilares, que funcionam como bulbilhos (e assim são chamados, embora não o sejam, mas, da mesma forma, ao cair no solo, realizam a propagação vegetativa da planta). Estes tubérculos ocorrem tanto na parte aérea, onde são pequenos, como na parte subterrânea, com tamanho maior. Suas inflorescências são axilares, racemosas, pendentes, extremamente ornamentais, com até 30 cm de comprimento e bastante densas. As flores são pequenas, possuem tépalas brancas ou creme e são intensamente perfumadas, atraindo muitas abelhas. A produção de frutos é muito rara e esta espécie se propaga, quase que exclusivamente, de modo vegetativo.
Embora cultivada originalmente como ornamental, a bertalha-coração cresce rápido e se propaga facilmente, o que faz com que seja considerada uma espécie daninha, extremamente invasiva e muito nociva ao ambiente onde se encontra. Por usar outras árvores como suporte, seu rápido crescimento e sua alta produção de biomassa inviabilizam o crescimento das árvores que servem de suporte, quebrando seus galhos e destruindo o dossel. O crescimento descontrolado da bertalha-coração (que pode chegar a incríveis 6 cm por dia!), provoca o sombreamento de áreas extensas, impedindo a chegada de luz, a ocorrência de germinação e o desenvolvimento da vegetação herbácea do subosque, inviabilizando a regeneração natural do ambiente. Genuinamente usada em jardins, escapou ao controle e, por ser altamente invasiva, é considerada uma espécie potencialmente devastadora* em países como Austrália, Nova Zelândia, África do Sul e Havaí. Inúmeras formas de controle físico (mecânico), químico e biológico têm sido testadas com a finalidade de erradicar a Anredera cordifolia destas áreas, com relativo sucesso.
Na medicina popular, a bertalha-coração tem seus rizomas, folhas e tubérculos usados no tratamento de doenças de pele, diabetes, hipertensão e gota; possui ainda componentes que apresentam comprovada atividade anti-inflamatória, antiviral, antibacteriana, anti-úlcera, hepatoprotetora e cicatrizante. Seu destaque maior, no entanto, é voltado para seu uso como PANC. Considerada um alimento nutracêutico, com alto valor nutritivo devido aos altos percentuais de ferro, cálcio e zinco, não possui toxidez e pode ser usada sem restrições. Suas folhas podem ser consumidas in natura, refogadas (como espinafre), ou secas e trituradas, usadas como farinha na produção de pães ou bolos. Os tubérculos, tanto aéreos com os subterrâneos, podem ser cozidos, picados e adicionados em alimentos comuns, como suplemento nutricional; podem ainda ser cortados em finas fatias e fritos em óleo quente, salpicados com sal e consumidos como batatas fritas.
O gênero Anredera origina-se do espanhol enredadera, que significa trepadeira. O epiteto específico, cordifolia, provém da junção das palavras latinas cordis (coração) e fólium (folha), e é uma referência direta ao formato de suas folhas.
Quem imaginaria que, por trás de singelas folhas em forma de coração, por trás da beleza encantadora de inflorescências pendentes, cheias de pequenas e delicadas flores perfumadas, e do seu uso sem restrições na alimentação, a bertalha-coração esconderia um potencial invasor temido e implacável?
Autoria: Sandra Zorat Cordeiro (2020)
* Vídeo apresentando a situação de uma área com crescimento descontrolado de Anredera cordifolia na Austrália e aplicação de estratégias de contenção:
- Remove madeira vine (Anredera cordifolia) - Pittwater EcoWarriors 3: https://youtu.be/4L7GBMF2NU4
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