Cuphea hyssopifolia Kunth
Família: LYTHRACEAE
Nome científico: Cuphea hyssopifolia Kunth
Nome popular: falsa-érica
Fotos: Sandra Zorat Cordeiro
Para o PDF da etiqueta, clique aqui.
Foto: Matheus Gimenez Guasti
Cuphea hyssopifolia, popularmente conhecida como falsa-érica ou cuféia, é uma espécie cultivada em quase todo o mundo, muito usada como ornamental uma vez que floresce, praticamente, o ano inteiro.
Originária da América Central e México, esta espécie se apresenta como um pequeno arbusto perene que atinge até 60 cm de altura. Bastante ramificada, seus caules são delgados e possuem filotaxia oposta; suas folhas, de cor verde brilhante, são muito pequenas e fortemente lanceoladas. As flores são solitárias, ocorrendo profusamente na axila das folhas, que se distribuem abundantemente ao longo dos ramos. A característica marcante das flores deste gênero é o tubo floral estriado com a base calcarada. As flores são formadas por 6 sépalas verdes intercaladas com 6 pequenos apêndices (também chamado de epicálice), 6 pétalas que podem ser roxas, róseas, lilases ou brancas, e dois guias de néctar amarelos. Seus frutos são deiscentes, tipo cápsula, com minúsculas sementes.
Usada predominantemente como ornamental, decorando ambientes em maciços ou cultivadas em vasos, enfeitando canteiros rústicos ou formando composições paisagísticas com pedras, em caminhos e passagens, a falsa-érica possui algumas notas etnobotânicas relacionadas à sua atividade terapêutica. Em certas regiões do México, populações indígenas utilizam infusões de parte aérea de Cuphea hyssopifolia no tratamento de desordens estomacais, sífilis e câncer; estudos científicos mostraram que seus extratos possuem atividade anti-tumoral; anti-leucêmica, anti-viral, antimicrobiana e hepatoprotetora.
O nome do gênero, Cuphea, se origina do grego Κύφους (kyphos) que significa corcunda ou giba, referindo-se à forma da base do tubo floral. Seu epíteto específico, hyssopifolia, é uma alusão à similaridade das folhas da falsa-érica com as do Hyssopus officinalis (hissopo), uma erva aromática citada na Bíblia que era usada em rituais de purificação.
Seu nome popular, falsa-érica, na verdade, é apenas o resultado de uma história "tipicamente taxonômica": ele provém da semelhança desta espécie com uma das espécies do gênero Erica - "as verdadeiras" - que pertencem à família Ericaceae e são muito comuns na África e Europa, onde são conhecidas como urzes ou heathers, por isso a Cuphea hyssopifolia também é chamada de false-heather. Acontece que a espécie de Erica com a qual a falsa-érica é a mais parecida, deixou de ser Erica há muito tempo... Originalmente descrita por Linnaeus como Erica vulgaris, foi constatado, posteriormente, que apesar dela ser muito parecida com as outras espécies do gênero (as "éricas verdadeiras"), possuía características que não permitiam sua permanência neste gênero e em nenhum outro. Assim, criou-se um novo gênero - Calluna - só para a Erica vulgaris, que passou então a ser denominada Calluna vulgaris, ou seja: a érica com a qual a falsa-érica se parece se trata de uma "ex-Erica". Pois é, a taxonomia vegetal tem suas ironias...
Há, ainda, uma outra falsa-érica, muito parecida com a Calluna vulgaris, conhecida também como érica-japonesa ou érica-japônica, e esta é triplamente falsa: além de não ser do gênero Erica, não é uma Ericaceae e, tampouco, é japonesa: seu nome é Leptospermum scoparium, ela é da família Myrtaceae e nativa da Austrália e Nova Zelândia. O gentílico japonesa vem da semelhança das suas flores com as da sakura, a famosa cerejeira japonesa (Prunus serrulata).
Só por conta desta confusão de éricas falsas, verdadeiras e japonesas, a existência de nomes científicos e suas regras fazem o taxonomista dormir feliz. E em paz.
Autoria: Sandra Zorat Cordeiro (2020)
Aqui, as espécies citadas no texto:
Hyssopus officinalis L. - de onde se origina o epíteto da Cuphea hyssopifolia (Foto: 阿橋 HQ - Creative Commons BY-SA)
Calluna vulgaris (L.) Hull (a "ex-Erica") - aspecto geral da planta (Foto: Jac,Janssen / Creative Commons BY)
Calluna vulgaris (L.) Hull (a "ex-Erica") - detalhe do ramo florido (Foto: Jac,Janssen / Creative Commons BY)
Leptospermum scoparium J.R.Forst & G.Forst. - a érica-japônica (Foto: Forest e Kim Starr / Creative Commons BY)
Prunus serrulata Lindl. - "sakura", a famosa cerejeira (Foto: Cassiopé2010 / Creative Commons BY-NC-SA)
Acta Plantarum. Etimologia dei nomi botanici e micologici e corretta accentazione. Disponível em: https://www.actaplantarum.org/etimologia/etimologia.php. Acesso em: 13 Jul. 2020.
CABI - Invasive Species Compendium. Cuphea hyssopifolia (false heather). Disponível em: https://www.cabi.org/isc/datasheet/118210#98b7044d-fb67-4e3c-b060-cca5464e57a7. Acesso em: 15 Jul. 2020.
Cavalcanti, T.B.,Graham, S. 2015. Cuphea in Lista de Espécies da Flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: http://floradobrasil.jbrj.gov.br/jabot/floradobrasil/FB116271. Acesso em: 13 Jul 2020.
Facco, M.G. Estudo taxonômico do gênero Cuphea P.Browne (Lythraceae) no Rio Grande do Sul, Brasil. 2015. Dissertação. (Mestrado em Botânica). Instituto de Biociências. Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
GBIF - Global Biodiversity Information Facility. Cuphea hyssopifolia Kunth. Disponível em: https://www.gbif.org/species/3188698. Acesso em: 13 Jul. 2020.
Missouri Botanical Garden - Plant Finder. Cuphea hyssopifolia. Disponível em: https://www.missouribotanicalgarden.org/PlantFinder/PlantFinderDetails.aspx?kempercode=a113. Acesso em 15 Jul. 2020.
Morales-Serna, J.; García-Ríos, E.; Peralta, D.; Cárdenas, J.; Salmón, M. Constituents of Organic Extracts of Cuphea hyssopifolia. Journal of the Mexican Chemical Society, v. 55, n. 1, p. 62-64, 2011.
Plantas e Flores do Areal. Calluna vulgaris (L.) Hull. Disponível em: http://floresdoareal.blogspot.com/2015/02/calluna-vulgaris-l-hull.html. Acesso em: 15 Jul. 2020.
von Humboldt, A.; Bonplant, A. Nova genera et species plantarum 6:157. 1823. Disponível em:https://bibdigital.rjb.csic.es/viewer/14532/?offset=#page=207&viewer=picture&o=search&n=0&q=cuphea. Acesso em: 13 Jul. 2020.
Wang, C.C.; Chen, L.G.; Yang, L.L. Antitumor activity of four macrocyclic ellagitannins from Cuphea hyssopifolia. Cancer Letters, v. 140, n. 1-2, p. 195–200, 1999.