Malvaviscus arboreus Cav.
Família: MALVACEAE
Nome científico: Malvaviscus arboreus Cav.
Nome popular: malvavisco
Fotos: Ricardo Cardoso Antonio
Fotos: Sandra Zorat Cordeiro
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Foto: Matheus Gimenez Guasti
Malvaviscus arboreus, o popular malvavisco, é uma espécie originária da América Central e do norte da América do Sul, cultivada como ornamental nas regiões tropicais e subtropicais de todo o mundo. Por apresentar alta variabilidade morfológica individual, tanto nas populações naturais como nas plantas cultivadas e em espécimes de herbário, é comum encontrar, em referência a esta espécie, a denominação de "Complexo Malvaviscus arboreus", uma vez que não é possível distinguir diferentes unidades taxonômicas entre suas variantes.
O malvavisco se apresenta, comumente, como um arbusto ereto ou trepador, atingindo até 5 m de altura, com caule basal lenhoso, muito ramificado, e ramos distais herbáceos. Possui filotaxia alterna, com folhas longamente pecioladas, de formato variado, geralmente ovalado ou com dois lóbulos laterais pouco proeminentes, com base aguda, ápice acuminado e borda serrada bastante irregular. Tanto os caules, como os pecíolos, lâminas foliares e pedicelos são pubescentes. As flores são pendentes e ocorrem solitárias quando axilares, ou em inflorescências tipo fascículo quando terminais. Possuem epicálice e cálice verdes, ambos pubescentes e campanulados; corola vermelha, raramente branca, com pétalas espatuladas, ligeiramente expandidas na porção distal, imbricadas, não se abrindo totalmente, com coluna estaminal excedendo o comprimento do tubo da corola. Pelas formas cultivadas paisagisticamente raramente apresentarem frutos, há pouca informação na literatura. As formas selvagens apresentam frutos globosos1, vermelhos, raramente brancos, brilhantes, com epicálice e cálice persistentes.
Pela sua folhagem rústica e pelo seu florescimento abundante e vistoso, atraindo fortemente borboletas e beija-flores, o malvavisco é muito usado como ornamental em projetos paisagísticos, formando cercas-vivas, acompanhando muros ou formando maciços. Mesmo assim, seu cultivo deve ser monitorado, pois o risco de invasão a ambientes naturais é alto: seu crescimento rápido propicia a formação de matas densas que competem com a vegetação nativa. O malvavisco é também uma PANC: suas flores e folhas jovens são comestíveis em saladas; quando secas, podem ser usadas para o preparo de chás; as flores ainda são usadas como ornamentação comestível de pratos e no preparo de geleias. Na medicina tradicional, o malvavisco é usado como anti-inflamatório no tratamento de problemas bucais e também indicado para amenizar problemas respiratórios, como bronquite e tosse. Seu chá é recomendado para banhos, em caso de doenças de pele, e para problemas gastrointestinais; a mucilagem das flores é indicada em casos de diarreia, podendo ser sugada diretamente das flores. Possui alto teor de vitaminas A, B, C e K, fibras e minerais.
Não bastassem tantos predicados, o malvavisco ainda é uma planta cerimonial. Suas pétalas são usadas na ornamentação de arcos e flechas, na aspersão de líquidos em rituais religiosos e usadas como oferenda nas cerimônias hindus de adoração, as chamadas pujas: as flores vermelhas são oferecidas aos deuses como uma reverência, em troca de sua benevolência. No Candomblé, é considerado uma planta de Omulu, o orixá que domina o território das enfermidades e das curas, sendo usado para banhos de cura em pessoas com enfermidades cutâneas.
O nome do gênero, Malvaviscus, origina-se da união dos nomes dos gêneros Malva e Viscum. Malva é um gênero de Malvaceae, provém do grego μάλᾰχη (malákhe), de pronúncia parecida com o grego μᾰλάσσω (malás), que significa suavizante, calmante, benevolente, tradicionalmente ligado a algo que pode expulsar o mal por suas propriedades oficinais. Viscum é o nome latino do visco (Viscum album - família Santalaceae), proveniente do grego ἰξός (ixós), uma espécie hemiparasita que possui frutos pegajosos com propriedades medicinais. A união dos dois nomes identifica uma malvácea pegajosa, em referência à substância transparente e viscosa das flores e folhas do malvavisco. Seu epíteto específico, arboreus, indica seu caule lenhoso e porte arbóreo. O nome popular é a forma vulgar do nome genérico. No exterior, dentre outras denominações, é conhecido como wax mallow (malva de cera), Turk's cap (touca de turco), ou sleeping hibiscus (hibisco adormecido) pelo fato das flores estarem sempre fechadas.
Malvavisco. O hibisco adormecido. A bela adormecida do jardim: uma malva viscosa. Flores vermelhas com pétalas de geleia doce embevecendo borboletas e beija-flores. Flores de oferenda enfeitando ramos de folhas que curam. Flores pendentes, como lágrimas açucaradas. Flores semi-cerradas, como olhos, quando simulam torpor e fingem não ver...
Autoria: Sandra Zorat Cordeiro (2020)
1 - Os frutos globosos podem ser vistos em: https://www.flickr.com/photos/benjamincardenas/33390347330/in/photostream/
Acta Plantarum. Etimologia dei nomi botanici e micologici e corretta accentazione. Disponível em: https://www.actaplantarum.org/etimologia/etimologia.php. Acesso em: 28 Jul. 2020.
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GBIF - Global Biodiversity Information Facility. Malvaviscus arboreus Cav. Disponível em: https://www.gbif.org/species/3152775. Acesso em: 25 Jul. 2020.
Malvaviscus in Flora do Brasil 2020 em construção. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: http://reflora.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB84950. Acesso em: 25 Jul. 2020.
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