Justicia gendarussa Burm.f.
Família: ACANTHACEAE
Nome científico: Justicia gendarussa Burm.f.
Nome popular: vence-demanda
Fotos: Ricardo Cardoso Antonio
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Foto: Matheus Gimenez Guasti
Justicia gendarussa, a popular vence-demanda, é uma espécie nativa do continente asiático, muito cultivada em algumas regiões da África e, mais intensamente, na América do Sul e Central, devido as suas comprovadas propriedades medicinais e, principalmente, pelos seus supostos atributos místicos, que lhe conferem o status de planta mágica ou planta de poder. Esta espécie se apresenta como um subarbusto ereto, bastante ramificado, que pode atingir até 1,5 m de altura. Possui caule de coloração vinácea, sendo sufruticoso, ou seja, lenhoso apenas na sua base, com ramos herbáceos e filotaxia oposta. Tem folhas lanceoladas de cor verde escura, borda suavemente irregular, lâminas glabras, com nervuras podendo ser levemente arroxeadas. Sua inflorescência é do tipo racemosa, e suas pequenas flores são brancas com estrias arroxeadas ou rosadas.
Muito recomendada na medicina tradicional onde é conhecida usualmente como anador, esta espécie é utilizada em diversas preparações para o tratamento e alívio de febre, tosse, inflamações, dores de cabeça, alergias e problemas menstruais. Há dezenas de registros etnobotânicos na América do Sul e Central que evidenciam seu uso, principalmente, no combate à asma e reumatismo, relacionados às suas comprovadas propriedades anti-inflamatórias e analgésicas, além de estudos científicos acerca da sua possível atividade anticoncepcional masculina. Suas aplicações terapêuticas são conhecidas há tanto tempo que são citadas no Hortus Indicus Malabaricus, de Rheede, escrito entre os anos de 1678-1693, o mais antigo livro impresso sobre a flora asiática, com destaque para a região do Malabar, no sudoeste indiano, uma das regiões de onde a Justicia gendarussa se origina*.
Conhecida popularmente pelo nome vence-demanda ou abre-caminhos, devido à crença nas suas supostas propriedades mágicas e ritualísticas, a Justicia gendarussa é considerada uma planta de poder, associada a entidades religiosas de matriz africana, como os orixás Xangô e Ogum, no Candomblé, e a entidades espirituais da Umbanda. É muito usada em banhos de ervas, benzimentos e bate-folhas, pois se acredita que tem o poder de realizar limpezas espirituais, destruir bruxarias, combater inveja e “olho-gordo”. É também utilizada em jardins e vasos com a finalidade de proteger ambientes, quebrar demandas espirituais e afastar energias negativas, abrindo caminhos e facilitando a solução de problemas. Sua utilização em rituais é tão forte dentro da cultura e religiosidade brasileiras que o nome vence-demanda batiza uma das mais antigas marcas de defumadores legalmente estabelecidas no Brasil. Seja como anador ou como planta de proteção, a crença nos poderes medicinais e/ou espirituais da vence-demanda é tão significativa que sua presença é garantida nos chamados "vasos de proteção" junto com outras ervas consideradas poderosas, como arruda (Ruta graveolens L.), guiné (Petiveria alliacea L) e espada-de-são-jorge (Sansevieria trifasciata Prain).
O gênero Justicia é uma homenagem a Sir James Justice, botânico, horticultor e jardineiro escocês (1698-1763), membro da Real Sociedade de Londres para o Avanço da Ciência. Sua paixão pela horticultura quase o levou à falência, devido às altas somas que gastava em estufas e em misturas para solos, buscando melhores condições para o crescimento de suas plantas. Devido ao seu interesse por esta área, é considerado o pai da Horticultura Escocesa do século XVIII.
O epíteto específico gendarussa tem origem nos idiomas malaio e javanês, e tem um belo significado, algo como “o perfume de um doce vento que sopra”, algo semelhante a aromas silvestres, aromas da floresta ou à fragrância amadeirada.
Para aqueles que acreditam no seu poder, o nome Justicia gendarussa vai além do latim botânico: seu uso significa que as entidades e orixás farão valer a justiça e, sobre aqueles que professam sua fé, a proteção chegará suavemente, assim como o perfume de um doce vento que sopra...
*Justicia gendarussa retratada no Hortus Indicus Malabaricus (vol. IX).
Autoria: Sandra Zorat Cordeiro (2020)
Corrêa, G.M.; Alcântara, A.F.C. Chemical constituents and biological activities of species of Justicia - a review. Brazilian Journal of Pharmacognosy, v. 22, n. 1, p. 220-238, 2012.
Flowers of India. Willow-leaf Justicia. Disponível em http://www.flowersofindia.net/catalog/slides/Willow-Leaf%20Justicia.html. Acesso: 01 Out. 2018.
GBIF - Global Biodiversity Information Facility. Justicia gendarussa Burm.f. Disponível em: https://www.gbif.org/pt/species/7447231. Acesso em: 25 Mai. 2020.
Oliveira, A.F.M.; Andrade, L.H.C. Caracterização morfológica de Justicia pectoralis Jacq. e J. gendarussa Burm.f. (Acanthaceae). Acta Amazonica, v. 30, n. 4, p. 569-578, 2000.
Plant Illustration. Justicia gendarussa Burm.f. Disponível em: http://www.plantillustrations.org/illustration.php?id_illustration=123177. Acesso em: 25 Mai. 2020.
Quattrocchi, U. CRC World Dictionary of Medicinal and Poisonous Plants: Common Names, Scientific Names, Eponyms, Synonyms, and Etymology. Reimpressão. Boca Raton: CRC Press. 2012.
Rheede tot Draakestein, H.A.; Casearius, J. (1678-1693) Hortus Indicus Malabaricus. Amsterdã. Disponível em https://www.biodiversitylibrary.org/item/14379#page/104/mode/1up. Acesso em: 25 Mai. 2020.
Rumpf, G.E. Herbarium amboinense: plurimas conplectens arbores, frútices, herbas, plantas terrestres & aquaticas, 1741. Disponível em https://biodiversitylibrary.org/page/186870. Acesso em: 20. Abr. 2019.