Solidago chilensis Meyen
Família: ASTERACEAE
Nome científico: Solidago chilensis Meyen
Nome popular: arnica-brasileira
Fotos: Alice Worcman - Organicidade
Fotos: Ricardo Cardoso Antonio
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Foto: Matheus Gimenez Guasti
Solidago chilensis, conhecida como arnica-brasileira, é uma espécie nativa da América do Sul, ocorrendo em quase todo o Brasil e ainda na Argentina, Chile, Bolívia e Uruguai, e introduzida em Portugal, Porto Rico e Peru. Utilizada como ornamental, se destaca fundamentalmente pelos usos dentro da medicina tradicional como substituta da arnica-verdadeira e com propriedades terapêuticas reconhecidamente comprovadas.
A arnica-brasileira se apresenta como uma erva perene, cespitosa e rizomatosa, podendo atingir até 1,5 a 2 metros de altura. Seu caule é delgado, ereto e muito folhoso. Suas folhas são sésseis, de textura áspera, formato tipicamente lanceolado e margem serrilhada, com filotaxia alterna-espiralada. As flores estão dispostas em capitulescências: quando terminais, os capítulos estão em panículas ascendentes, quando sub-terminais, formam capitulescências cimosas escorpioides. Cada capítulo é precedido por duas séries de brácteas que protegem as flores do raio, que são femininas e possuem corola ligulada de cor amarelo-ouro, e as flores do disco, hermafroditas e com corola tubulosa, também amarela. Os frutos são secos, indeiscentes, com pappus de cor paleácea.
Apesar de ter ampla distribuição e ser uma espécie ruderal, frequentemente encontrada em beiras de estradas, em terrenos baldios, gramados e próxima a rios e locais úmidos, a arnica-brasileira é cultivada como ornamental, sendo muito requisitada como flor de corte por conta da sua resistência, durabilidade e pelo belo efeito que sua inflorescência amarela proporciona na montagem de arranjos florais, buquês e ornamentação de ambientes. A característica mais marcante, no entanto, é sua aplicação terapêutica.
Utilizada pela medicina tradicional em substituição à arnica verdadeira, Arnica montana L.1 no tratamento de escoriações, contusões, distensões e dores musculares, a arnica-brasileira, é uma planta medicinal que integra a Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS (RENISUS) do Ministério da Saúde. Suas propriedades analgésicas, anti-inflamatórias, anti-microbianas, antifúngicas, anti-oxidantes, anti-agregante plaquetária, citotóxicas e antiproliferativas são cientificamente comprovadas. Mesmo com tantos benefícios, é uma planta recomendada, até o momento, apenas para uso externo. Há ainda outra arnica, também na família Asteraceae, a espécie Lychnophora ericoides Mart.2, popularmente chamada de arnica-brasileira, também medicinal mas hepatotóxica, daí a necessidade fundamental da correta identificação taxonômica das espécies vegetais.
O nome popular, arnica, origina-se do nome do gênero Arnica, do grego ἀρνᾰκίς (arnakís) que significa pele de carneiro; foi dado à arnica-verdadeira devido à maciez de suas folhas cobertas por finos tricomas. A arnica-brasileira passou a ser chamada assim por possuir propriedades medicinais similares às da arnica-verdadeira. Por ser muito conhecida e eficaz na medicina tradicional, Solidago chilensis possui outros nomes populares, sempre relacionados à cor e à forma de sua inflorescência. Na América do Norte, juntamente com outras espécies do gênero, é chamada de goldenrod ou yellow stick (vara dourada); na Argentina e Chile, é conhecida por "vara amarilla" ou "lanceta" (pequena lança). No Brasil, é ainda denominada espiga-de-ouro, erva-lanceta, arnica-de-terreiro, arnica-do-campo, entre outros.
O nome de seu gênero, Solidago, provém do latim solidatum, que significa "tornar sólido", "consolidar", "endurecer", em alusão às suas propriedades curativas no tratamento de lesões musculares. O epiteto específico, chilensis, é um epíteto geográfico e se refere ao local de ocorrência da espécie na sua descrição, no caso, o Chile. A etimologia do nome deste país é incerta e bastante controversa, com teorias de que seja proveniente de palavras dos idiomas falados pelos povos indígenas da região, como os Quechua, Mapuche ou Aymara. Estas palavras seriam chili, tchili ou tili com significado semelhante a "profundezas" em referência ao Vale do Aconcágua, ou com o poético significado de "onde a terra acaba ou se esgota", em referência ao Chile ser o país mais ao sul e ao oeste da América do Sul. Há ainda outras palavras com escrita e sonoridade semelhantes, significando "neve" ou "frio".
Solidago chilensis. A bela lança dourada. A erva com flavas flores que curam. Mesmo ocorrendo em grande parte da América do Sul, carrega no seu nome a origem chilena: o país da Cordilheira Andina, de recortes e vales profundos, do frio, de Salvador Allende e, de acordo com os seus povos indígenas, "onde a terra se acaba".
Para nós do HUNI, Solidago chilensis é o último capítulo desta história chamada "Coleção Didática do Canto das Flores". Mais do que isso, ela representa o final de uma jornada, iniciada em 2017, diante dos belos Arcos da Lapa, e significa: "aqui termina nossa coleção".
Autoria: Sandra Zorat Cordeiro (2020)
NOTAS
1 - Arnica montana L. (Asteraceae) é uma espécie nativa da Europa e possui uma infinidade de aplicações medicinais, principalmente aquelas relacionadas a contusões, entorses e distensões musculares, com eficácia comprovada cientificamente.
Foto: Jason Grant / Creative Commons BY-NC
2 - Lychnophora ericoides Mart. (Asteraceae) é uma espécie endêmica do Brasil, também conhecida popularmente como arnica-brasileira ou arnica-do-cerrado, utilizada pela medicina tradicional e com propriedades medicinais analgésicas e anti-inflamatórias comprovadas. A - aspecto geral da planta, B - detalhe da inflorescência
A
Foto: João Vitor Andriola / Creative Commons By-NC
B
Foto: Horto Didático HU/ CCS/ UFSC
* Nossos agradecimentos:
- à Alice Worcman, do Organicidade, pelas belíssimas fotos de Solidago chilensis na Fundição Progresso.
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