código do Google analytics UNIRIO faz a diplomação póstuma de três estudantes de Medicina mortos pelo regime militar — Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

Webmail | Guia Telefônico |  Perguntas Frequentes |  Fale ConoscoOuvidoria Comunicação Institucional

Central de Conteúdos

icone de uma filmadora com auto falanteAudiovisual

Icone de um calendárioEventos

Ícone de um jornal dobradoPublicações

ícone periódicosPortal de Periódicos

icone repositorio: ilustração de fundo azul com conteúdo textual na cor brancaRepositório Hórus

Você está aqui: Página Inicial / UNIRIO faz a diplomação póstuma de três estudantes de Medicina mortos pelo regime militar

UNIRIO faz a diplomação póstuma de três estudantes de Medicina mortos pelo regime militar

por Comunicação publicado 14/04/2024 15h12, última modificação 24/04/2024 18h48
Familiares de Elmo Correa, Lúcia Maria de Souza e Luíz Renê Silveira e Silva estiveram presentes na solenidade, que foi seguida por ato político na praça em frente à Biblioteca Central

Em uma cerimônia marcada por forte emoção, a UNIRIO concedeu na sexta-feira, 12 de abril, de forma póstuma, os diplomas de Elmo Correa (1946-1974), Lúcia Maria de Souza (1944-1973) e Luíz Renê Silveira e Silva (1951-1974). Os três eram estudantes de Medicina da Fefierj – federação que antecedeu a UNIRIO, instituída como universidade em 1979 – , e foram mortos pelo regime militar.

Realizada no Auditório Vera Janacópulos, na Urca, a diplomação integrou o ato de "descomemoração" dos 60 anos do golpe militar de 1964, organizado pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE), pela Associação dos Trabalhadores em Educação da UNIRIO (Asunirio) e pela Associação dos Docentes da UNIRIO (Adunirio), com apoio da Reitoria.

A mesa solene foi composta pelo reitor da UNIRIO, José da Costa Filho; pela vice-reitora, Bruna Nascimento; pela pró-reitora de Graduação, Luana Aquino; pela diretora da Escola de Medicina e Cirurgia, Andrea Povedano, e pelo vice-diretor, Antonio D’Acri; e pela discente Luna, representante do Diretório Central dos Estudantes (DCE). O pró-reitor de Extensão e Cultura, Vicente Nepomuceno, conduziu a cerimônia, e os familiares dos três estudantes ocuparam lugares de honra no palco para acompanhar a diplomação, que foi aprovada pelos Conselhos Superiores da UNIRIO, em sessão realizada no dia 27 de março. Na ocasião, foi também aprovada a criação de uma Comissão da Verdade na Instituição. Leia detalhes da sessão

“Foram muitos anos. Demorou muito. Foi preciso muita luta para que a gente tivesse o direito de estar aqui hoje, lutando por aquilo que a gente considera básico, por aquilo que é fundamental em nossa vida em sociedade”, disse o pró-reitor Vicente ao iniciar a cerimônia. Assim como os demais participantes do ato, ele destacou o caráter da diplomação como um importante gesto de reparação.

O reitor Da Costa abriu o evento destacando que se tratava de uma solenidade fundamental do ponto de vista histórico, simbólico e político para a UNIRIO e para a atual gestão. Ele agradeceu aos sindicatos dos técnicos e docentes, ao DCE e aos participantes do Grupo de Trabalho dedicado a pensar e rever os espaços de convivência como espaços de memória e justiça na Universidade.

Da Costa ressaltou ainda o esforço da gestão e do DCE para que a diplomação ocorresse nesta data, 12 de abril, que marca os 52 anos do ataque militar contra o movimento de resistência à ditadura que se organizava na região Norte do país, e que deu origem à Guerrilha do Araguaia.

Muito emocionada, a vice-reitora Bruna Nascimento reiterou o valor de reparação, de desculpas e de renovação da esperança na democracia presente na solenidade. “Que toda divergência, que todas as diferenças possam ser tratadas sempre através do diálogo. Que elas possam ser aceitas, externalizadas e, sobretudo, vivenciadas”, manifestou.

A diretora da Escola de Medicina, Andrea Povedano, lembrou que a Medicina tem como essência prevenir doenças, diagnosticá-las e tratá-las: “Quando a gente não consegue isso, o mínimo que podemos fazer é acalentar e diminuir a dor. Espero que a diplomação dos nossos nobres colegas, que não estão mais aqui, consiga acalentar o coração das famílias e de todos os que sofreram com isso”. Já o vice-diretor Antonio D’Acri destacou a convergência entre as propostas da atual gestão da Universidade e o simbolismo da cerimônia como reparação histórica.

Luana Aquino, pró-reitora de Graduação, observou que a história dos três estudantes mostra que, em seu dia a dia na Universidade, eles já eram médicos em formação “em relação às chagas que existiam desde já em nossa Universidade, chagas e feridas políticas, e que algumas ainda permanecem”. A pró-reitoria ressaltou que a habilitação dos estudantes deve servir também como exemplo para prevenir novos casos de repressão e perseguição aos movimentos estudantis.

Finalizando a mesa solene, a discente Luna falou sobre o entendimento do DCE e dos sindicatos da UNIRIO quanto à diplomação póstuma, no sentido de ser uma oportunidade de rever o que aconteceu no passado. “Precisamos mexer nessa ferida. Não podemos esquecer do que aconteceu, porque não foi um caso isolado. É muito triste hoje a gente não conseguir ter a presença da Lúcia Maria de Souza, do Luíz Renê Silveira e Silva e do Elmo Correa. Precisamos relembrar para que isso jamais aconteça novamente”, disse Luna.

A estudante reiterou a importância da Universidade como espaço de resistência e de busca pela justiça: “O DCE, que tem o nome de Lúcia Maria de Souza, uma das estudantes mortas durante a ditadura militar, vem aqui saudar esse espaço, e também trazer um acalento para essas famílias. A figura desses estudantes deve ser relembrada como resistência, e deve ser rememorada em todas as praças, salas e espaços públicos, para que a gente consiga fazer minimamente uma reparação, que nunca vai ser completa. Nossa luta precisa ser por memória, verdade, justiça e reparação, para que os arquivos da ditadura sejam abertos e que a gente consiga entender o que aconteceu nesse processo.”

Também tiveram falas durante a cerimônia o presidente da Adunirio, Rodrigo Castelo; o representante da Comissão da Verdade do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN), Cláudio Ribeiro; a integrante do grupo Tortura Nunca Mais no Rio de Janeiro, Victoria Grabois; o militante Caique, membro do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e colega dos estudantes assassinados; o representante da Asunirio, Rodrigo Ribeiro; a representante da União Nacional dos Estudantes (UNE), Thais Raquel; e a deputada Jandira Feghalli (PCdoB), que é médica e destacou que, durante a ditadura, houve os colegas que lutavam pela liberdade, como os três estudantes diplomados, e aqueles que ajudavam na tortura.

Diplomação

Antes da entrega dos diplomas póstumos pelo reitor Da Costa, foi respeitado um minuto de silêncio em memória de Elmo, Lúcia Maria e Luíz Renê. Muito emocionados, os familiares falaram um pouco sobre a história dos estudantes, suas aspirações e a participação na resistência contra o regime militar. Também contaram como o desaparecimento dos jovens afetou as famílias, marcadas até hoje pela violência de ter seus parentes assassinados pelo Estado, sem informações precisas sobre o que aconteceu com eles e sem punição aos envolvidos.

“Nesse momento a gente lembra da pessoa, e fico pensando que eu poderia ter visto essa diplomação muito anos atrás, quando meu irmão estava cursando a universidade. Ele era um menino cheio de ideias, como os que estou vendo aqui. As falas que ouvi, das meninas da UNE e do DCE, são tudo o que eu queria falar. É isso, a gente não pode esquecer jamais, porque, se a gente esquecer, não vai ter mais luta nenhuma“, disse Elizabeth, irmã de Luíz Renê Silveira e membro do grupo Tortura Nunca Mais no Rio de Janeiro.

Os familiares de Lúcia Maria e Elmo Corrêa também agradeceram à UNIRIO a diplomação e salientaram a importância desse reconhecimento como reparação pessoal e também para trazer à tona a necessidade de abertura dos arquivos da ditadura.

Após a apresentação de um vídeo sobre o golpe militar de 1964 e suas repercussões, incluindo na UNIRIO, e um breve histórico de Elmo, Lúcia Maria e Luíz Renê, o reitor José da Costa encerrou a cerimônia. “Estamos aqui simbolizando nossa vontade de juntar forças, de ultrapassar diferenças em prol da luta, para não permitir que as nossas diferenças internas, no campo progressista e no campo democrático, dificultem nossa capacidade de agir coletivamente”, avaliou.

O reitor lembrou que a UNIRIO foi institucionalizada como universidade durante a ditadura, em decorrência de movimentos políticos daquela época e, por isso, tem marcas duras e pesadas em sua história: “Nossa Universidade, que é tão cheia de contradições, está fazendo este ato porque estamos conseguindo outro grau de amadurecimento. Nossa Escola de Medicina e Cirurgia, que nos honra profundamente, vai caminhar neste movimento, junto das demais escolas. Nós não temos medo de enfrentar nosso histórico de falta de compreensão do lado que era mais importante assumir”.

A íntegra da cerimônia de diplomação pode ser acompanhada no canal da UNIRIO no YouTube.

Assista também à cobertura do evento produzida pelo Núcleo de Imagem e Som (NIS).

Ato político

Logo após a solenidade, foi realizado um ato político na Praça Guilherme de Oliveira Figueiredo, localizada em frente à Biblioteca Central da UNIRIO (Av. Pasteur, 436, Urca). O espaço leva o nome do primeiro reitor da Universidade, indicado por seu irmão, o ex-presidente militar João Baptista Figueiredo.

A partir da iniciativa do projeto de extensão Construção Coletiva de Espaços, Memória e Cultura - Espaços Livres UNIRIO, lançado durante o evento, a vereadora Luciana Boiteux (PSOL) apresentou na última semana o Projeto de Lei 3.019/2024, que solicita a alteração do nome da praça para Praça Autonomia Universitária.

Vitor Halfen, arquiteto da UNIRIO e coordenador do projeto de extensão Espaços Livres UNIRIO, falou sobre a importância de repensar os espaços da Universidade, tendo o campus como um equipamento público da cidade. “Queremos discutir como requalificar os espaços da nossa Universidade, numa perspectiva de valorização e do resgate da memória desses espaços, e também a criação de lugares de convivência, de arte e de cultura”, explicou. A mudança do nome da praça para Praça Autonomia Universitária é, segundo Vitor, um exemplo de resgate da memória do local.

Participaram do ato político o reitor Da Costa e a vice-reitora Bruna Nascimento; os representantes da Adunirio, da Asunirio e do DCE; os representantes da Comissão da Verdade do Andes-SN, Cláudio Ribeiro, e da Comissão da Verdade da UFRJ, José Sergio Leite Lopes e Andrea Queiroz; e as representantes do Movimento Sem Terra (MST) e do Coletivo Memória, Justiça e Reparação.

Além da vereadora Luciana Boiteux, também estiveram presentes no ato os deputados Reimont (PT) e Tarcísio Motta (PSOL), que apoiam o projeto de extensão Espaços Livres UNIRIO.

Familiares durante a diplomação póstuma

Familiares dos estudantes com os diplomas póstumos

Ato político praça

 A vice-reitora, Bruna Nascimento, fala durante o ato político que encerrou o evento de "descomemoração" do golpe de 1964

Praça Autonomia Universitária

 Pôster sobre a proposta de alteração do nome da praça Guilherme de Oliveira Figueiredo, cujo projeto de lei foi apresentado pela vereadora Luciana Boiteux (PSOL)


e-mec - consulte aqui o cadastro da instituição nos sitemas emec Capes CNPQ marca rede unirio marca seiunirio