Professora do Ibio participa de expedição à Antártica em busca de fósseis do Cretáceo
Ossos, conchas e troncos remanescentes de organismos que habitaram o planeta há dezenas de milhões de anos, além de fragmentos rochosos, compõem as mais de duas toneladas de material recolhido na última expedição à Antártica realizada pelo projeto Paleontar, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Entre os nove desbravadores que embarcaram rumo à região – sete pesquisadores e dois alpinistas –, estava a paleontóloga Luiza Ponciano, professora do Instituto de Biociências (Ibio) da UNIRIO.
Com a missão de encontrar fósseis de plantas e animais do período Cretáceo, a equipe passou 43 dias acampada na Ilha de James Ross, ponto mais distante alcançado pelo Programa Antártico Brasileiro. Em meio a nevascas, rajadas de vento de até 140km/h e sensação térmica de 20 graus negativos, os pesquisadores coletaram vestígios que podem ser de dinossauros e, até mesmo, de espécies ainda não relatadas pela ciência. “Como é muito difícil chegar à Antártica e coletar material, há diversas áreas na região que ainda não foram exploradas”, destaca Luiza. “Em um espaço como esse, é mais fácil encontrar espécies ainda desconhecidas”.
O material, que chegou ao país em abril, será distribuído entre as universidades participantes da expedição. Para a UNIRIO virão cerca de 80kg de fragmentos de invertebrados marinhos, entre amonitas e biválvios. O carregamento dará início à coleção de fósseis estrangeiros da Universidade.
Assista ao vídeo da expedição.
Passado revelado
Para Luiza, o estudo dos fósseis da Antártica pode contribuir para a pesquisa sobre a evolução de organismos habitantes de outras regiões. “No passado, não havia separação entre América do Sul, Austrália, África, Índia: esses lugares eram todos unidos. Como os animais podiam se movimentar livremente pelos continentes, o estudo dos fósseis da Antártica propicia correlações com a vida que se desenvolveu em outros locais”, ressalta.
De acordo com a pesquisadora, a Antártica daquela época era muito diferente da paisagem desértica que conhecemos hoje. “Na era Mesozoica [que abrange o Cretáceo], a região tinha um clima relativamente quente, com árvores e diversos tipos de animais”, revela. Segundo ela, para saber como viviam esses seres pré-históricos, é preciso estudar não apenas seus vestígios, mas, também, as rochas locais. “Dessa maneira, é possível fazer o que chamamos de ‘reconstituição paleoambiental’, para determinar como era o ambiente na época”.
Essa foi a segunda vez que pesquisadores do projeto Paleontar partiram rumo à Antártica – a primeira havia sido em 2007. A expedição teve duração total de 70 dias, entre dezembro de 2015 e março deste ano. O projeto é coordenado pelo professor do Museu Nacional da UFRJ Alexander Kellner.
(Reportagem: Gabriela Praça/Jornalista Comso)