Professor da UNIRIO desenvolve projeto sobre memória política em Argentina e Brasil
Refletir sobre a memória política em Argentina e Brasil, à luz – e às sombras – dos desafios contemporâneos, contemplando diálogos e leituras críticas de diversos períodos históricos. Esse é o objetivo de uma série de vídeos que estão sendo produzidos no âmbito do projeto Ensaios Audiovisuais sobre Memória Política em Argentina e Brasil, coordenado pelo professor e pesquisador Javier Alejandro Lifschitz, do Departamento de Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação em Memória Social (PPGMS) da UNIRIO.
A proposta é realizar um conjunto de vídeos de 20 a 30 minutos, a partir das filmagens de encontros presenciais com acadêmicos e personalidades, de diferentes áreas do conhecimento, nas cidades de Buenos Aires e do Rio de Janeiro. Serão conversas relacionando memória política e temas como feminismo, peronismo (Argentina) e o Partido dos Trabalhadores (Brasil), ultradireita, cultura, artes plásticas e literatura contemporânea. As entrevistas serão editadas com inclusão de textos, documentos e imagens ilustrativas sobre os temas abordados.
Pós-doutorado
O projeto surgiu a partir da dissertação para professor titular defendida por Javier em novembro de 2024, intitulada “A memória política na época de seu desaparecimento”. Na ocasião, a banca observou que há uma certa distância nos debates culturais entre Argentina e Brasil, causada, em grande parte, pelas diferenças ideológicas nos governos atuais e no poder concentrado da mídia, que opera anulando a reflexão e o debate aberto. Os comentários serviram como motivação para a elaboração do projeto e o início, em 2025, de um pós-doutorado no Instituto de Estudos Latino-Americanos e Caribenhos (IEALC), da Universidade de Buenos Aires (UBA), onde se desenvolve o projeto.
Além de Javier, participam da iniciativa Licia Gomes, mestra em Memória Social pela UNIRIO e doutoranda do Ides/Argentina, e o antropólogo Guido Negruzzi, pós-graduando em Arquiometria na Universidade Nacional de La Plata. A equipe já realizou uma série de entrevistas com acadêmicos na Argentina, incluindo as sociólogas Dora Barrancos, pesquisadora da Universidade Nacional de Quilmes, reconhecida referência do feminismo latino-americano, e Daniela Lucena, professora da UBA e da Universidade Nacional de Las Artes, especialista no estudo da Arte; os sociólogos Lucas Rubinich, pesquisador da UBA, e Gabriel Kesller, professor da Universidade Nacional de La Plata e da Universidade Nacional de San Martín; o economista Carlos Hugo Fidel, professor da Universidade Nacional de Quilmes, especialista em economia e urbanismo; os historiadores Horacio Bustingorry, professor da Universidade Nacional de La Plata, pesquisador sobre peronismo, e Ernesto Boholavsky, pesquisador docente do Instituto de Desenvolvimento Humano da Universidade Nacional de General Sarmiento, que estuda as organizações de direita da Argentina, Brasil e Chile; a historiadora Sandra Raggio, docente e pesquisadora da Universidade Nacional de La Plata, especialista em memória e ditadura; e o escritor, ensaísta e cientista social Alejandro Horowicz.
A previsão é que as entrevistas no Brasil sejam realizadas até o mês de agosto. A intenção é finalizar a série de vídeos em dezembro deste ano, para exibição futura em canais da UBA, da Universidade Nacional de Quilmes, do Instituto de Estudos de Latinoamérica e Caribe e do Parque de la Memoria, de Buenos Aires. Segundo o coordenador do projeto, será criado também um canal próprio, como via de acesso para alunos e interessados. “Pretendemos divulgar por meio de algum canal vinculado à UNIRIO. No caso do Brasil, pensamos em incluir plataformas do YouTube que viabilizam a difusão de temas afins”, informou.
Intercâmbio
Javier Lifschitz destaca que o IEALC, onde se desenvolve o projeto, está focado no campo da pesquisa em Ciências Sociais sobre a América Latina, promovendo o intercâmbio entre os países da região. Por isso, os vídeos serão exibidos com legendas, em português ou espanhol, para alcançar o público interessado na reflexão cultural e política sobre o Brasil e a Argentina.
Para o docente, essa possibilidade de intercâmbio de conhecimentos entre os públicos dos dois países é um dos destaques do projeto: “Considero importante termos conseguido realizar entrevistas de grande qualidade com acadêmicos reconhecidos, que adequaram sua fala pensando em um público de estudantes não argentinos, que não estão necessariamente familiarizados com as temáticas apresentadas. Acreditamos que o mesmo vai acontecer com os acadêmicos brasileiros, que serão entrevistados sobre os mesmos temas, de forma a ter um quadro bastante atualizado da reflexão mais recente sobre cultura e política em ambos os países”.
O histórico político recente do Brasil e da Argentina também é um fator que contribui para a relevância da pesquisa. “Pretendemos contribuir para ampliar e reativar o debate entre ambos os países após todo um período de obscurantismo, que lamentavelmente ainda persiste, e sempre tentou dificultar essas formas de intercâmbio no plano da educação e da cultura”, pontuou Javier.