Pesquisadoras da UNIRIO são contempladas em edital de apoio a cientistas mães
Duas pesquisadoras da UNIRIO foram recentemente contempladas no edital do Programa de Apoio às Cientistas Mães com vínculo em ICTs do Estado do Rio de Janeiro, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). Gabriela Barreto da Silva Scramingnon, do Departamento de Didática, e Tatiana Fabricio Maria, do Departamento de Ecologia e Recursos Marinhos, receberão recursos para o estabelecimento e melhoria de infraestrutura e para cobrir despesas de custeio de seus projetos.
Mãe de Teo, de cinco anos, Gabriela Scramingnon é professora adjunta do Departamento de Didática e trabalha com as disciplinas de Ciências Sociais na Educação e Estágio Supervisionado de Educação Infantil. Ela foi selecionada para fomento ao projeto "Políticas de alimentação para a educação infantil no Estado do Rio de Janeiro: tendências e concepções".
Como pesquisadora da infância, Gabriela vive na prática os desafios de conciliar as demandas do trabalho na academia e da maternidade. "Tenho defendido a relação de qualidade com bebês e crianças, a valorização da escuta, da relação. Às vezes me pego pensando nisso: que meu filho também merece o que tenho defendido para todas as crianças. Ele tem uma mãe professora-pesquisadora que milita pelas crianças e este direito também precisa ser garantido na minha relação com ele", analisa.
Também mãe de um menino de cinco anos, Erich, a professora e pesquisadora Tatiana Fabrício Maria foi contemplada pelo projeto "Avaliação do uso de epibiontes como indicadores da saúde ecossistêmica em áreas de alimentação de tartarugas-verdes (Chelonia mydas, Linnaeus 1758) na costa fluminense". Em sua avaliação, o principal desafio de conciliar a vida acadêmica e a maternidade está relacionado ao tempo que precisa ser dedicado.
“A maternidade é uma atividade de tempo integral e perante os desafios da educação positiva, que foi a que eu escolhi para meu maternar, é necessário tempo e dedicação para observar e experimentar em como agir com o meu filho de forma psicologicamente saudável para ambos. Tanto o observar como o experimentar são frutos da investigação científica e requerem tempo e compromisso, o que acaba diminuindo bastante o tempo para as atividades investigativas do campo científico. Cada ano de vida de uma criança é um verdadeiro desafio, um novo experimento não controlado, o que diminui ainda mais o tempo para realização de um experimento científico controlado, fazer uma coleta, analisar um resultado e escrever um manuscrito. É sim possível conciliar, mas certamente a balança não estará equilibrada”, avalia Tatiana Maria, que é docente no Departamento de Ecologia e Recursos Marinhos, onde ministra as disciplinas básicas de Ecologia.
Sobre a questão do tempo de dedicação exigido das mães pesquisadoras, Gabriela Scramingnon compartilha o mesmo sentimento: “A maternidade faz com que a gente perca o controle do nosso tempo, e é estranho perder esse controle. Pelo menos por agora, com meu filho ainda pequeno, me sinto assim. Aprender que há uma vida que depende de você e que caminha em outro tempo tem sido um aprendizado. O trabalho na academia exige aprofundamento, densidade, tempo de estudo, concentração, calma para ler e escrever, respeito aos prazos. A maternidade mostra que é preciso aprender a lidar com imprevistos: filho adoece, demandas inesperadas surgem. É um desafio conciliar as duas coisas”.
Para ela, o fomento concedido pela Faperj pode ser visto como uma conquista social, um avanço histórico em um país de tantas desigualdades. “Leio neste edital a seguinte mensagem: as mulheres podem fazer a escolha de ter filhos, e elas também podem ser cientistas. Não é preciso escolher entre uma coisa e outra. Um fomento voltado às mães cientistas compreende que a maternidade inscreve as mulheres em um lugar singular na vida, na pesquisa”, observa Gabriela.
Na avaliação de Tatiana Maria, o recebimento de um auxílio exclusivo proporciona mais energia e ânimo para prosseguir no caminho da ciência. “Essa é uma possibilidade de mostrar que uma mãe cientista está lutando para dar o seu melhor e indo de encontro a uma sociedade acadêmica movida pelo ego, competição e meritocracia”, pontua.
A pesquisadora ressalta a importância da continuidade de ações como a da Faperj. “É importante que mais editais de políticas afirmativas para mães possam ser continuamente lançados e que, também, elas possam ser continuamente avaliadas de forma diferencial nos diversos editais de fomento, pois são elas as principais responsáveis pela criação de uma sociedade mais justa, humana e amorosa”, conclui Tatiana.
Pesquisadoras Tatiana Maria (à esquerda) e Gabriela Scramingnon (Fotos: arquivos pessoais)
Saiba mais sobre os dois projetos da UNIRIO contemplados no edital da Faperj:
"Avaliação do uso de epibiontes como indicadores da saúde ecossistêmica em áreas de alimentação de tartarugas-verdes (Chelonia mydas, Linnaeus 1758) na costa fluminense"
O projeto tem um aspecto multidisciplinar e envolve alguns outros docentes do Instituto de Biociências, pois a iniciativa pretende formar um grupo de pesquisa consolidado na avaliação da saúde ecossistêmica de ambientes costeiros. Nesse primeiro momento, o estudo irá focar nas áreas de alimentação das tartarugas-verdes do estado do Rio de Janeiro, utilizando a presença, abundância e diversidade de epibiontes para avaliação das preferências alimentares, comportamentos reprodutivos e sociais, saúde e bem-estar das tartarugas. Desta forma, a análise dos epibiontes das tartarugas marinhas, além de indicar a qualidade do habitat às suas necessidades, pode servir de indicador da saúde de outros compartimentos desse ambiente, como o plâncton e o bentos. A execução desse projeto será dada através da participação de discentes de graduação e pós-graduação da UNIRIO e de discentes de mestrado do Mestrado Internacional em Recursos Biológicos Marinhos – IMBRSea, do qual a pesquisadora Tatiana Maria é colaboradora, recebendo discentes para realização da disciplina obrigatória “Professional Practice" ou para desenvolvimento das dissertações de mestrado.
“Políticas de alimentação para a Educação Infantil no Estado do Rio de Janeiro: tendências e concepções”
Situado no âmbito do grupo de pesquisa Educação Infantil e Políticas Públicas (EIPP) da UNIRIO, coordenado pela professora Maria Fernanda Rezende Nunes, o projeto tem como objetivo geral investigar as concepções e tendências expressas nas políticas municipais de Educação Infantil no Estado do Rio de Janeiro em torno da alimentação. A pesquisa consistirá em um estudo qualitativo em dez municípios do Estado. Propõe-se compreender sentidos expressos na documentação orientadora do trabalho nas creches e pré-escolas, a partir da análise de orientações curriculares, publicações, deliberações, portarias, resoluções, no que tange ao trabalho com a alimentação dos bebês e crianças. Centrado em uma perspectiva de caráter “macro” e “meso”, este estudo se ancora nas políticas públicas, considerando a legislação educacional, programas e orientações do Ministério da Educação como órgão indutor na formulação das políticas municipais. Nas instâncias intermediárias, concentra-se nas Secretarias Municipais de Educação. O projeto fundamenta-se em sua base teórica no diálogo interdisciplinar, resgatando as contribuições dos Estudos da Infância como campo que fornece elementos para pensar a infância e a criança nos contextos educativos no âmbito da pesquisa em Ciências Humanas e Sociais. No resgate da função sociocultural da alimentação, o debate considera o tema na área das políticas públicas, da história do atendimento à infância e da antropologia, em especial, na afirmativa de que a alimentação é inerente aos processos de constituição das identidades sociais. Considerando os textos municipais como discursos, como prática social, arena de disputas ideológicas e políticas, a pesquisa dialogará com as contribuições da obra de Bakhtin. Com essa perspectiva teórica do projeto, o tema da alimentação é compreendido em sua complexidade e multidimensionalidade tanto no sentido de nutrir o corpo como em seu sentido social, portanto, educativo que compõe o trabalho nas creches e pré-escolas. Os resultados da pesquisa visam contribuir para adensar a concepção de alimentação como prática cultural e social, além de consolidar o conceito de educação como prática social que envolve as ações de ensinar e cuidar. Visam, ainda, fornecer subsídios para as políticas públicas voltadas à qualidade de vida de adultos e crianças em creches e pré-escolas e para a formação prévia e continuada de profissionais de educação que atuam com bebês e crianças.
(Daniela Oliveira, jornalista da Comso/UNIRIO)