Pesquisa coordenada por professor da UNIRIO embasa registro do choro como Patrimônio Cultural do Brasil
O choro – gênero musical surgido nos fins do século XIX – é agora Patrimônio Cultural do Brasil, após decisão do Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no dia 29 de fevereiro. O processo de registro foi embasado por uma pesquisa coordenada pelo professor Pedro Aragão, do Instituto Villa-Lobos (IVL/UNIRIO), em conjunto com outros dois professores.
A proposta de incluir o choro no rol de patrimônios imateriais do país veio do Clube do Choro de Brasília, em 2012, com apoio de diversos músicos e outros núcleos importantes do choro, como a Casa do Choro do Rio de Janeiro, o Conservatório de Música de Recife, o Clube do Choro de Santos e a Escola de Choro de Porto Alegre.
Três anos depois, foi iniciado o processo administrativo para o registro e, em 2019, lançado um edital para instrução técnica, realizada pela Associação Cultural de Amigos do Museu do Folclore Edison Carneiro (ACAMUFEC). A entidade, então, convidou os professores Pedro Aragão (UNIRIO), Rafael Velloso (UFPel) e Lúcia Campos (UEMG) para coordenarem a pesquisa que norteou o processo.
O projeto teve início no segundo semestre de 2020, e, por conta da pandemia de Covid-19, foi conduzido quase totalmente de modo virtual. Segundo Pedro Aragão, foram realizadas cerca de 50 entrevistas com chorões e choronas de todo o Brasil, além de seminários on-line reunindo instrumentistas, compositores(as), gestores de acervos de choro, pesquisadores e apaixonados pelo gênero.
Como resultado, foi produzido um dossiê que fundamenta a importância histórica do choro para a sociedade brasileira, salientando suas raízes afro-brasileiras, seu desenvolvimento histórico, formas de transmissão e formas de ensino. Recheado de informações e imagens em quase 200 páginas, o documento está disponível no site do Iphan.
“O dossiê procura mostrar o nascimento do choro nas periferias do Rio de Janeiro do final do século XIX, ligado às populações afro-brasileiras; sua incorporação à rádio na década de 1930, ganhando projeção nacional, ao lado do samba; o nascimento de diversos clubes de choro pelo Brasil a partir da década de 1970. E também a importância histórica de nomes como Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth, Pixinguinha, Jacob do Bandolim, dentre muitos outros intérpretes e compositores do gênero”, explicou Pedro.
A pesquisa gerou também um pequeno documentário e uma base de dados, a ser disponibilizada em breve na internet, com um mapeamento de acervos, lugares de ensino, clubes e escolas de todo o país.
Incentivo
A relatora do processo que aprovou o choro como Patrimônio Cultural do Brasil foi a professora Márcia Regina Chuva, da Escola de História da UNIRIO, membro do Conselho Consultivo do Iphan.
Ela apresentou, em seu parecer, a importância do bem cultural por sua abrangência pelo país e pelo caráter democrático: “Como expressão musical com profunda capilaridade, conhecida em todas as regiões do país, em diferentes sotaques, o choro envolve materialidades e imaterialidades que são referências às identidades, ações e memórias de diferentes grupos da sociedade brasileira.”
Para o professor Pedro Aragão, o registro do choro pode abrir caminho a uma série de financiamentos, para incentivo a atividades ligadas ao ensino, manutenção de acervos, transmissão e performance do gênero em todas as regiões do país.
“Esse reconhecimento significa muito. Apesar de ser uma das músicas urbanas brasileiras mais antigas ainda em atividade, o choro historicamente sempre esteve marginalizado. Sua inserção nas universidades, por exemplo, é muito recente, e a UNIRIO é certamente pioneira neste sentido, por ser uma das primeiras universidades a oferecer um Bacharelado em MPB, que contempla o choro”, conclui.
(Foto: Marcelo Camargo, da Agência Brasil)