Entrevista com o Reitor da UNIRIO sobre o Hospital Universitário
O reitor da UNIRIO, José da Costa Filho, que está em Guimarães, Portugal, participando do XXIII Encontro de Reitores do Grupo Tordesilhas, concedeu na segunda-feira (28) entrevista para o jornal O Globo, para matéria publicada hoje (29) sobre a possibilidade de fusão do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle com o Hospital Federal dos Servidores. A entrevista é publicada na íntegra a seguir.
1- Professor José da Costa, estamos cobrindo os bastidores da fusão entre o Gaffrée e Guinle e o Hospital Federal dos Servidores. Como o senhor analisa esse acordo? Por que a medida é necessária?
Primeiramente, é importante explicar que o acordo que existe é o de cooperação técnica, para estudar e preparar informações e documentos para subsidiarem a discussão dentro de nossa comunidade universitária. Por meio dele saberemos com precisão sobre a quantidade de leitos disponíveis, ativos e paralisados, a questão das contratações das empresas e convênios, entre outros pontos importantes. A eventual fusão, portanto, depende dos resultados desse estudo, para observarmos a sua viabilidade e, também, se será realmente benéfica para a nossa Universidade. A partir do resultado desse acordo de cooperação técnica teremos clareza sobre o mapa de riscos e a janela de oportunidades que tal fusão representaria. Uma vez se confirmando que a fusão é possível e desejável, esta leva a UNIRIO, sim, a outro patamar de colaboração com o SUS, de atendimento ao Sisreg, com espaço físico para incorporar todas as áreas da saúde de alta complexidade. Assim, insere nossos alunos nas áreas de saúde, como medicina, enfermagem e nutrição, às novas técnicas, bem como amplia as possibilidades de atividades práticas. Há uma demanda muito grande dos estudantes para isso. O projeto da formação de médicos, enfermeiros e nutricionistas cada vez demanda mais espaços e cenários de prática. Os avanços tecnológicos e o maior rigor atual nas normas sanitárias e de segurança também tornam a expansão necessária, e nosso Hospital Universitário Gaffrée e Guinle não possui estrutura física para darmos conta de todas as nossas intenções. Além disso, a UNIRIO se orgulha de ter a oportunidade de dar uma contribuição para a construção de um novo momento histórico de enfrentamento de problemas de saúde no estado e na cidade do Rio de Janeiro.
2- Caso o processo de fusão dê certo e seja aprovado por todas as partes envolvidas, o que senhor pretende fazer com o espaço onde atualmente funciona o Hospital? Apurei com fontes da prefeitura de que o senhor tem interesse em transformar a área numa clínica da família escola e um Caps (para servir de espaço de treinamento dos alunos da Unirio).
Esse estudo está sendo realizado, ainda não temos como saber quais atividades permaneceriam ou seriam incorporadas caso a fusão de concretizasse. É certo que não queremos um esvaziamento do Hospital Gaffrée e Guinle e sempre esteve fora do horizonte de nossa gestão qualquer possibilidade de ele deixar de ter atividades assistenciais. É claro que, se a UNIRIO tiver um hospital universitário que abranja o Gaffré e o Hospital dos Servidores, esse grande espaço deverá ser racionalizado para potencializar a sua utilização, sem a repetição de atividades complexas especializadas em ambos os locais. Está sendo considerada a ideia de o Gaffrée e Guinle se tornar um polo muito relevante de cuidados paliativos e serviços de atenção multidisciplinar às doenças crônicas degenerativas e associadas ao envelhecimento, uma demanda crescente de saúde da sociedade devido à cada vez maior expectativa de vida da população. Estamos também avaliando a possibilidade de o Instituto Biomédico da UNIRIO migrar para uma área no Gaffrée e Guinle. De todo modo, posso garantir que o Hospital Gaffrée e Guinle não deixará de existir como uma unidade de ensino e pesquisa que também garanta serviços de assistência à saúde da população.
3- Qual é o atual orçamento do hospital Gaffrée e Guinle? Qual será o papel da UNIRIO após a fusão?
O orçamento anual de custeio do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle subiu em 2023 de R$ 18 milhões para R$ 44 milhões, em função de uma negociação com o Ministério da Saúde, em que levamos uma nova metodologia de cálculo baseada em capacidade operacional e complexidade, em vez da tabela SUS, que, desatualizada, não cobria nossos custos. Adicionalmente, a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, a Ebserh, fez um aporte de mais R$ 10 milhões de custeio em 2024, e R$ 22 milhões em 2022. Isso possibilitou que o Hospital Universitário Gaffrée e Guinle quitasse todas as dívidas históricas de água e energia e com empresas terceirizadas, e hoje as contas são todas pagas na data de vencimento. Além disso, tivemos em 2023 mais R$ 10 milhões em investimentos, entre equipamentos e melhorias do espaço físico.
Tal como ocorre hoje, o Hospital Universitário é da UNIRIO. O fato de a Ebserh gerir o hospital não muda isso. Temos, em nossa gestão, fortalecido o diálogo entre a Reitoria e a Superintendência do Hospital, que tem, em diferentes espaços, inclusive em reuniões com diferentes segmentos da Universidade e audiências públicas, prestado contas do que tem sido feito. Além disso, muitas atividades de ensino, na graduação e na pós-graduação, de pesquisa e de extensão da UNIRIO são realizadas no Gaffrée e Guinle. Tudo isso continuará no novo Hospital Universitário caso a fusão efetivamente se concretize, inclusive com maior abrangência e diversidade.
4- O senhor acredita que, após a fusão, o novo e turbinado hospital será o maior do país?
A avaliação que tem sido feita é a de que, em médio prazo, com a incorporação de novas tecnologias e com investimentos em infraestrutura e pessoal, ele estaria entre os três maiores e mais relevantes hospitais universitários públicos do Brasil. É claro que esse enorme potencial para contribuir com as políticas públicas de educação e saúde nos motiva, mas não queremos nos apressar. A fusão é algo complexo e desafiador e, se ela de fato se concretizar, necessariamente terá passado por todas as etapas de estudos, debates e esclarecimentos, para que todo esse futuro com que sonhamos de fato seja alcançado.
5- O que o Gaffrée e Guinle oferece de serviços atualmente?
O Hospital Universitário Gaffrée e Guinle está totalmente inserido na regulação de leitos e serviços do SUS, sendo o hospital federal que mais oferece serviços ao Sisreg. Atende as áreas básicas como clínica médica, obstetrícia, pediatria e maternidade de alto risco, cirurgia pediátrica, CTI neonatal, CTI adulto, tomografia computadorizada, radiologia intervencionista, mamografia, ultrassonografia, cardiologia, oncologia e cirurgias oncológicas, neurocirurgia, hemodiálise, hematologia, cirurgia plástica, neurologia, neurocirurgia, cirurgia torácica, proctologia, ginecologia, nefrologia, urologia, além de várias outras subespecialidades.