Docente da UNIRIO recebe prêmio de melhor tese do Instituto Oswaldo Cruz (IOC)
Investigação do neurodesenvolvimento em crianças expostas ao vírus chikungunya no período neonatal no Rio de Janeiro: seguimento até os 3 anos de idade. Este é o título da tese de doutorado desenvolvida pela neonatologista Fátima Cristiane Pinho de Almeida Di Maio Ferreira, professora da Escola de Cirurgia e Medicina (EMC) da UNIRIO.
O trabalho recebeu, em cerimônia no dia 19 de setembro, o Prêmio IOC de Teses Alexandre Peixoto 2025, concedido pelo Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz a pesquisas que trazem contribuições significativas para a saúde pública e a ciência.
A pesquisa alerta para os riscos da transmissão vertical do vírus chikungunya, que pode ocorrer de mãe para filho durante a gestação ou no momento do parto, e aponta complicações graves logo após o nascimento, assim como impactos no desenvolvimento neurológico dos bebês.
Estudo realizado no HUGG
A tese de Fátima foi desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical, sob orientação de Patrícia Brasil, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz).
No estudo, realizado no Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG), a pesquisadora acompanhou cerca de 60 bebês expostos à chikungunya durante a gestação no período de 2016 a 2020.
Confirmando observações feitas anteriormente na Ilha de Reunião, no Oceano Índico, a pesquisa apontou que a transmissão vertical do agravo é um risco maior quando a infecção materna ocorre perto do parto. Ao todo, 18 crianças contraíram o vírus, o que indica taxa de transmissão vertical de 33%. Em todos estes casos, as gestantes tiveram diagnóstico de chikungunya no período entre sete dias antes e sete dias depois do parto.
A maioria dos bebês infectados não apresentou sintomas ao nascer. Porém, quase todos desenvolveram quadros graves em seguida, semelhantes à sepse. Dezessete precisaram de internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Atrasos no neurodesenvolvimento
O acompanhamento de parte das crianças ao longo de três anos detectou atrasos no neurodesenvolvimento em cerca de 20% dos casos, incluindo não apenas bebês com infecção confirmada ao nascer, mas também alguns que foram expostos na gestação e não apresentaram o vírus.
A aquisição da linguagem foi o aspecto mais afetado. Também foram registrados déficits no desenvolvimento motor e cognitivo, assim como casos de autismo.
Para Fátima, os achados reforçam a importância da vigilância e da prevenção da chikungunya em gestantes. “A vigilância é crucial, principalmente quando a gestante é infectada no período do parto. É vital acompanhar as crianças expostas ao vírus, mesmo que não tenham sido infectadas. A intervenção precoce com terapias de apoio pode diminuir o impacto da doença no neurodesenvolvimento e no crescimento dessas crianças”, ressaltou.
A médica acrescentou que profissionais de saúde devem orientar as gestantes sobre uso de repelentes e telas de proteção, além da eliminação de água parada para combater o mosquito Aedes, vetor da doença. Também é indicado evitar viagens para áreas com alta transmissão do agravo.
Ao receber o Prêmio IOC de Teses Alexandre Peixoto, Fátima destacou a relevância da premiação. “Minha trajetória foi profundamente inspirada pela excelência do Instituto Oswaldo Cruz e da Pós-graduação em Medicina Tropical. Sinto-me, de fato, privilegiada por ter minha tese associada a um prêmio com tamanha credibilidade e importância. Não posso deixar de expressar minha profunda gratidão à minha orientadora, Patrícia Brasil. Sua sabedoria, paciência e incansável dedicação foram essenciais”, afirmou.
(Informações de Comunicação/Instituto Oswaldo Cruz)
Legenda da foto: Patricia Brasil, orientadora da tese; a docente da EMC Fátima Cristiane Pinho de Almeida Di Maio Ferreira; e Vanessa de Paula, coordenadora da Pós-graduação em Medicina Tropical