Dissertação premiada da UNIRIO propõe metodologia para qualificação de incidentes em ecossistemas de software
Imagine que um dia, ao chegar a seu local de trabalho, a catraca eletrônica da entrada do edifício não reconheça mais sua biometria. Após várias tentativas frustradas de fazer o dispositivo funcionar, você solicita à recepção que libere o acesso e se dirige à sua sala, onde é surpreendido por uma falha na identificação de usuários da rede de computadores da empresa. Depois de duas horas, a equipe do setor de tecnologia da informação (TI) consegue, finalmente, solucionar o problema. Mas, ao fazer o login, uma nova surpresa: o acesso à internet “caiu”. Aparentemente, hoje é seu dia de sorte.
Em um mundo dominado pelo software, situações como essas são cada vez mais comuns. Estabelecer uma metodologia para qualificar esse tipo de incidente, de forma a apoiar o time de gestão de TI na identificação das causas do problema e na atribuição de responsabilidades, é o objetivo da dissertação PSECO-IM: an approach for incident management to support governance in proprietary software ecosystems. O estudo, desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Informática (PPGI) da UNIRIO, é de autoria do analista de sistemas Luiz Alexandre Costa, sob orientação dos professores Rodrigo Pereira dos Santos (PPGI/UNIRIO) e Awdren Fontão (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul).
A defesa ocorreu em setembro de 2021. Desde então, o trabalho já recebeu três prêmios de melhor dissertação, nos seguintes eventos: XVIII Simpósio Brasileiro de Sistemas de Informação (SBSI 2022), XXI Simpósio Brasileiro de Qualidade de Software (SBQS 2022) e Workshop Anual do MPS (WAMPS 2022). O segredo do sucesso? “Consegui trazer [para a Academia] um problema da indústria e aplicá-lo a um cenário real, vivo: foi esse o grande diferencial da minha dissertação”, avalia o autor, que atua também como gerente de operações de uma seguradora multinacional.
Identificação de falhas
Determinado a buscar soluções para os desafios enfrentados diariamente em sua atividade profissional, Luiz Alexandre Costa se voltou para a análise de interrupções não planejadas sistemicamente, os chamados “incidentes”, em ecossistemas de software (ECOS) – redes de criação de valor caracterizadas por conectividade e dependência entre diversos atores. “Dentro de uma plataforma tecnológica, há desenvolvedores internos, externos, fabricantes, gerentes e fornecedores de software, que se relacionam entre si, contribuindo com o sistema”, aponta. A dissertação aborda, especificamente, o funcionamento de ECOS proprietários, cujos dados utilizados e o conhecimento envolvido são protegidos por direitos autorais.
A proposta é estabelecer um método capaz de distribuir corretamente os incidentes entre as equipes de TI, qualificando tanto os times quanto as aplicações inseridas na cadeia de produção, em relação ao nível de confiança verificado. “Por exemplo, se eu encontro um time que gera incidentes a cada vez que é inserido no ambiente de produção, essa equipe será classificada como de ‘baixa confiabilidade’”, salienta Costa. Segundo ele, o intuito é delegar a responsabilidade sobre os incidentes a quem de fato os produziu, dentro da plataforma tecnológica de um ECOS.
A partir disso, caberá ao gestor de TI identificar as causas do problema. “Seria falta de treinamento para o time? As ferramentas estão sendo adequadamente utilizadas? São realizados testes antes da utilização das aplicações?”, indaga o autor. O estudo gerou uma customização no processo de desenvolvimento de software, por meio da qual é possível elaborar indicadores de qualidade, para medir os times de desenvolvimento e as novas aplicações inseridas no ambiente de produção.
A dissertação já originou quatro artigos divulgados em eventos científicos, além da publicação Towards Proprietary Software Ecosystem Governance Strategies Based On Health Metrics: Special Issue on Collaboration and Innovation Dynamics in Software Ecosystems, no periódico IEEE Transactions on Engineering Management.
A pesquisa prossegue no curso de doutorado do PPGI, no qual Costa, atualmente, investiga as três dimensões de um ECOS: técnica, social e de negócios. De acordo com ele, a proposta é estabelecer um modelo de governança por meio do qual essas três dimensões contribuam para as operações da plataforma tecnológica, trazendo boas práticas, orientações e lições aprendidas. Assim como na pesquisa de mestrado, as atividades estão sendo desenvolvidas no Laboratório de Engenharia de Sistemas Complexos (LabESC) da UNIRIO, coordenado pelo professor Rodrigo Pereira dos Santos.
(Gabriella Praça/UNIRIO)