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Ao sul do Equador

por Comunicação publicado 22/08/2025 10h02, última modificação 23/08/2025 02h59
Série de reportagens aborda atividades desenvolvidas pela UNIRIO no contexto dos movimentos sociais, em parceria com instituições do sul global; primeiro texto destaca a trajetória do professor Celso Sanchez, da Escola de Educação

Vocação. Na definição do dicionário Aurélio, o termo diz respeito à disposição natural que orienta uma pessoa no sentido de determinada atividade, função ou profissão. No caso do professor Celso Sanchez, da Escola de Educação, a vocação para atravessar fronteiras vem de berço: nascido no Rio de Janeiro, filho de pai mineiro e mãe da Nicarágua, aprendeu o espanhol como língua materna e, aos seis anos de idade, viajou com a família para o país da América Central, em uma tentativa de se estabelecerem por lá. O ano era 1979, data da Revolução Sandinista na Nicarágua. “Os americanos começaram a organizar uma guerrilha, os contrarrevolucionários – e, em 1980, estourou uma guerra civil no país. Não tinha a menor condição de ficar”, relembra.

A família precisou retornar ao Brasil, mas a experiência internacional e a identidade híbrida marcariam a vida de Sanchez, que cresceu e construiu uma carreira acadêmica dedicada à educação ambiental e às lutas populares no contexto latino-americano. Esta é a primeira de uma série de reportagens sobre as atividades desenvolvidas pela UNIRIO no contexto dos movimentos sociais, em parceria com instituições do sul global. A cada texto, serão abordados novos projetos desenvolvidos em cooperação internacional, seja com a América Latina, seja com o continente africano.

Em julho, Celso Sanchez esteve na região de Coquimbo, no Chile, para participar do evento Territórios Conectados, promovido pela Fundación Chile. O encontro reuniu representantes do Brasil, Chile, México e da Argentina, com o objetivo de fortalecer a cooperação técnica entre esses países, discutindo os desafios comuns enfrentados nos campos da sustentabilidade, do desenvolvimento humano, da transformação digital e da economia local.

“O evento teve uma repercussão enorme na mídia chilena, impulsionando o debate sobre desenvolvimento territorial”, conta Sanchez. “Conectar cidades e experiências locais é algo muito importante para um país: ao desenvolver o local e estabelecer conexões, é possível mudar paradigmas”, completa. Biólogo graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e mestre em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social pela mesma instituição, o docente enveredou pela área de Educação, doutorando-se em 2008 pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Há 20 anos, dedica-se também ao estudo do guarani mby’a, idioma falado pelo povo indígena homônimo.

No Chile, Sanchez ministrou uma palestra sobre sociobiodiversidade, apontando a necessidade de implementação de políticas de integração regional que reconheçam a riqueza da nossa diversidade biológica e cultural. “É preciso garantir a presença de povos como os indígenas, os quilombolas, os ribeirinhos, as comunidades periféricas e a população de assentamentos rurais no debate do desenvolvimento territorial”, salienta. Para ele, a gestão pública deve ser pensada a partir do território. “O município de Maricá, por exemplo, se propôs a criar um instituto de ciência e tecnologia próprio, empregando as verbas proveniente de royalties do petróleo no desenvolvimento científico”, aponta, referindo-se ao Parque Tecnológico de Maricá, ainda em fase de construção, sob responsabilidade da Companhia de Desenvolvimento de Maricá (Codemar).

Outra proposta defendida pelo docente é o plano de integração de bibliotecas comunitárias da Baixada Fluminense, da Argentina e do Chile, propiciando a troca de livros, experiências e ideias. “Pensamos em oferecer cursos de português e de espanhol, de base comunitária: nós, juntos com as bibliotecas, em redes de integração”, revela. “Quando você reúne as pessoas, elas vêm com milhares de ideias, e as coisas começam a acontecer, com a universidade assumindo o papel de promover as ações. Por muito tempo, pensávamos que éramos protagonistas nesse processo; hoje, vemos que somos um promotor, um parceiro, alguém que estimula o movimento”, avalia.

Celso Sanchez (à direita) falou sobre sociobiodiversidade em evento no Chile (Foto: Divulgação)
Celso Sanchez (à direita) falou sobre sociobiodiversidade em evento no Chile (Foto: Divulgação)

Resistência decolonial

Celso Sanchez é coordenador do Grupo de Estudos em Educação Ambiental desde el Sur (GEASur), vinculado à Escola de Educação. O grupo se dedica ao estudo de práticas pedagógicas de educação ambiental nos contextos formal e não formal, abarcando emergentes em lutas populares, movimentos sociais, populações tradicionais, povos indígenas e grupos em situação de vulnerabilidade socioambiental no cenário latino-americano.

O GEASur foi fundado em Cuba, em 2013, em um evento chamado Cuba Ambiente. “Lá, articulei com um companheiro cubano, outro venezuelano, e iniciamos uma cooperação”, revela o professor. Hoje, a equipe tem mais de 20 integrantes, que desenvolvem projetos de pesquisa, promovem cursos de extensão e estabelecem parcerias com órgãos e instituições do Brasil e do exterior, realizando ações em colaboração internacional.

As parcerias firmadas possibilitam, ainda, a mobilidade acadêmica de alunos de pós-graduação da UNIRIO, que se dirigem a outras universidades da América Latina para realizar estágios – chamados de “pasantías, em espanhol. Da mesma maneira, o GEASur também recebe mestrandos e doutorandos de outros países para estágios de curta e longa duração. O colombiano Gonzalo Vanegas Forero, aluno do curso de doutorado interinstitucional em Educação da Universidade Distrital Francisco José de Caldas, na Colômbia, passou por essa experiência. Professor de Física em seu país, o pesquisador elegeu a UNIRIO como destino para sua pasantía, realizada no mês de julho, sob orientação de Celso Sanchez.

Durante o período em que esteve no Brasil, Gonzalo participou de encontros do GEASur, assistiu a apresentações de trabalhos produzidos por membros do grupo e teve a oportunidade de apresentar a outros pesquisadores seu próprio projeto de investigação, sobre observatórios astronômicos ancestrais. “Em qualquer lugar da América Latina, encontramos relatos de comunidades que olham para o céu e buscam compreender fenômenos da vida a partir das estruturas observadas”, aponta. Segundo ele, três “conceitos-chave” debatidos na UNIRIO contribuíram para enriquecer o projeto: comunidade, território e agricultura. “Para explorar o diálogo com a minha pesquisa, discutimos sobre plantações comunitárias e interculturalidade”, revela.

Para além da aplicação acadêmica, o colombiano destaca a importância da reflexão crítica possibilitada pelos debates. “Como resposta à realidade do sul global, existe uma tendência à construção de uma educação crítica, decolonial e voltada à resistência, que busque não apenas atender, mas vincular todos os atores de determinada comunidade”, ressalta, completando: “Já passamos ao passo seguinte, que é começar a dialogar para enfrentar a origem das desigualdades a partir dos saberes ancestrais”.

De volta à Colômbia, Gonzalo dará prosseguimento à sua pasantía, na modalidade remota, até o mês de setembro. Na fase atual, ele se dedica a escrever trabalhos acadêmicos sobre os temas debatidos na UNIRIO, em uma parceria entre o GEASur e seu grupo de pesquisa original, Intercitec – Interculturalidade, Ciência e Tecnologia –, fundado e coordenado por sua orientadora de doutorado, a docente Adela Molina Andrade, da Universidade Distrital Francisco José de Caldas.

A partir do dia 30 de agosto, o GEASur promoverá o curso de extensão Educação Ambiental de Base Comunitária, com palestras, oficinas, aulas e programação cultural. A iniciativa já tem mais de 4 mil inscritos, e as inscrições seguem abertas, para a modalidade on-line. Outras informações estão disponíveis na página do curso.

Durante o estágio na UNIRIO, Gonzalo apresentou seu projeto de pesquisa, sobre observatórios astronômicos ancestrais (Foto: Celso Sanchez)
Durante o estágio na UNIRIO, Gonzalo apresentou seu projeto de pesquisa, sobre observatórios astronômicos ancestrais (Foto: Celso Sanchez)

(Gabriella Praça - UNIRIO/Comso

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