Tese premiada da UNIRIO propõe instrumento para avaliar clima organizacional em equipes de computação
Colaboração, autonomia, conhecimento, liderança e tomada de decisão são fatores humanos que interferem diretamente no ambiente organizacional de uma empresa. Para medir esses e outros parâmetros na atuação de equipes de desenvolvimento de software, o professor Eliezer Dutra Gonçalves produziu uma ferramenta chamada TACT.
O projeto originou a tese de doutorado An Instrument to Assess the Organizational Climate of Agile Software Development Teams, premiada como melhor trabalho do gênero do último ano, no Programa de Pós-Graduação em Informática (PPGI), e segundo melhor no Workshop Anual do MPS (WAMPS 2022). O acrônimo TACT provém do título da tese: Instrumento para avaliar o clima organizacional de equipes ágeis, em inglês.
“Como vou resolver um problema se não consigo tomar decisões, ou se tenho uma comunicação ruim na equipe?”, questiona Eliezer. “Tudo isso depende da perspectiva dos fatores subjetivos humanos, para os times de desenvolvimento de software”, completa o egresso, que atua como docente do curso de Sistemas de Informação do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet/RJ). Segundo ele, o instrumento psicológico funciona como uma espécie de “termômetro” para avaliar a percepção coletiva sobre os fatores humanos.
O trabalho se voltou para os chamados “times ágeis” - conceito empregado na área de desenvolvimento de software para definir equipes caracterizadas pela autonomia de planejamento. Nesse modelo de organização, as demandas são divididas em tarefas e resolvidas em grupo. “No paradigma anterior, dito tradicional, havia um gerente que delegava tarefas aos funcionários; agora, é a equipe que se auto-organiza para resolver os problemas”, ressalta Eliezer.
Tateando
TACT significa “tato”, em inglês: metáfora para nomear um instrumento que possibilita avaliar, “de olhos fechados”, o que acontece na organização. “Há empresas com centenas de desenvolvedores, distribuídos em pequenas equipes de cinco a dez integrantes; como saber de que forma esses profissionais estão interagindo?”, indaga o autor. “Se o clima não estiver satisfatório, os resultados também serão ruins”.
A partir de um questionário de autorrelato a ser respondido anonimamente pelos membros do grupo, são apontados fatores que interferem na “agilidade” do trabalho, prejudicando diversos outros fatores, como a produtividade e a qualidade do software desenvolvido. “O instrumento mede a percepção dos empregados sobre a política organizacional, a cultura, os procedimentos e o comportamento das pessoas”, aponta o autor. Trata-se do “clima organizacional”, definido por ele como a percepção que o indivíduo tem da atuação dos colegas e da instituição como um todo.
Os resultados são úteis tanto para a alta gestão da empresa quanto para o time, que, como “equipe ágil”, tem autonomia para propor soluções para os próprios desafios. O uso do instrumento foi avaliado em seis empresas, atuantes nos mais diversos ramos de atividade – incluindo um grande banco brasileiro e uma corporação canadense de administração de grandes fortunas.
Entre os achados, foi possível identificar equipes sob alto nível de estresse. “Os gestores confirmaram todas as informações apresentadas”, revela Eliezer. “Eles conseguiram identificar ‘comportamentos negativos’ de líderes, perceberam que a discussão sobre arquitetura de software precisava melhorar e, em algumas empresas, manifestaram o desejo de rodar novamente o instrumento, depois de melhorarem alguns aspectos”. Já entre os colaboradores de empresas terceirizadas, houve a percepção de que o método dá voz aos funcionários quanto a questões críticas do trabalho.
O trabalho foi elaborado sob orientação dos professores do PPGI Gleison Santos e Bruna Diirr.