Saúde dos profissionais de Enfermagem é tema de mesa no I Congresso da Andifes
Uma discussão sobre a saúde dos profissionais da Enfermagem foi o tema principal da mesa Presente e futuro da pós-graduação da UNIRIO: impacto da Covid-19 em profissionais da Enfermagem, realizada na manhã desta quarta-feira (17), como parte da programação do I Congresso da Andifes.
A conversa reuniu os professores Roberto Carlos Lyra, da UNIRIO, e David Marcio Barreto, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), com mediação da professora Evelyn Orrico, pró-reitora de Pós-Graduação, Pesquisa e Inovação da UNIRIO.
Coordenador do Laboratório de Avaliação Econômica e de Tecnologias em Saúde (Laets/UNIRIO), Roberto Carlos Lyra apresentou uma pesquisa sobre o impacto da Covid-19 na saúde dos profissionais de Enfermagem. O Brasil é o país com maior número de mortes desses profissionais pela doença, e o estudo buscou entender qual a carga da infecção pela Covid-19 nessa categoria.
Os dados mostram que, no Brasil, a doença tem uma alta letalidade entre os profissionais, e indica que há uma perda de produtividade muito grande, principalmente entre os técnicos de enfermagem, profissionais do sexo feminino e aqueles na faixa dos 31 aos 40 anos.
"Podemos tirar algumas conclusões desses resultados. Uma delas é que há uma elevada carga de trabalho imposta nessa profissão, principalmente aos profissionais do sexo feminino. Muitas vivenciam uma tripla, quarta jornada de trabalho, com uma carga emocional muito grande", avalia Lyra.
Já David Marcio Barreto, professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), abordou a questão do adoecimento e da perda de produtividade dos profissionais de Enfermagem, não apenas pela Covid-19, e o impacto para os serviços públicos e privados.
De acordo com pesquisa realizada pelo docente, observa-se que, no serviço público, a maioria dos profissionais tem mais de um vínculo laboral, com uma carga que ultrapassa 60 horas semanais - considerado o limite para salvaguardar a integridade física e mental do trabalhador. Quando comparado ao serviço privado, o setor público tem 50% mais relatos de problemas de saúde e maior tendência ao absenteísmo, que é a falta ao trabalho, por motivos de saúde.
Nos casos em que há o presenteísmo - ou seja, o profissional comparece doente ao local de trabalho -, os custos para o empregador existem, mas não são tão aparentes. "Quando o trabalhador falta, sabe-se que ele perdeu 100% da produtividade. Mas, no caso do trabalhador que está presente mas não está bem, até quanto ele está desenvolvendo sua produtividade?", indaga Barreto.
O estudo mostrou ainda que os programas de saúde laboral do hospitais privados são mais bem estruturados, havendo diagnóstico, tratamento prévio e acompanhamento em caso de doença. Ao contrário dos serviços públicos, em que os profissionais são diagnosticados com a doença, liberados do trabalho, mas não contam com acompanhamento sobre o tratamento da enfermidade.
Papel das universidades
Sobre a relação entre universidade e às demandas dos sistemas de saúde, Roberto Carlos Lyra disse que tem dúvidas se a graduação tem conseguido formar profissionais que atendam à necesidade do Sistema Único de Saúde. Já no que se refere à pós-graduação, o pesquisador acredita que a UNIRIO tem contribuído para repensar as políticas públicas de Saúde.
"O perfil de nossas pesquisas, especialmente no âmbito da Avaliação Econômica das Tecnologias em Saúde, têm esse apelo, esse objetivo de mudar desfechos clínicos e informar decisões nas políticas de Saúde", avaliou Lyra.
Ao lembrar que a universidade tem o papel de dar respostas a problemas cotidianos e situações sociais, David Barreto destacou que os dados gerados pelas pesquisas dão suporte aos conselhos profissionais, aos sindicatos e ao meio político.
A pró-reitora Evelyn Orrico salientou que o momento atual exige uma atenção maior para os diferentes estágios de produção - seja na cadeia alimentar, no comércio, nos serviços ou na produção do conhecimento. "Para que alguns consigam fazer seu resguardo dentro de casa, outras categorias laborais precisam estar na linha de frente. E que precisam, e merecem, ter um olhar mais cuidadoso sobre elas", observou.
A transmissão da mesa contou com a interpretação para a Língua Brasileira de Sinais (Libras).