Proteína do leite é capaz de inibir infecção pelos vírus Zika e Chikungunya, indica estudo
A proteína lactoferrina derivada do soro do leite bovino é capaz de inibir in vitro a infecção pelos vírus Zika e Chikungunya. Essa é a conclusão de uma pesquisa realizada pelo Instituto Evandro Chagas (IEC) em parceria com a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O estudo foi coordenado pelo professor Carlos Alberto Marques de Carvalho, integrante da Seção de Arbovirologia e Febres Hemorrágicas do IEC.
Para a pesquisa, foram utilizadas as chamadas células Vero – bastante aplicadas em experimentos com vírus transmitidos a humanos por mosquitos. A partir de ensaios de infecciosidade, microscopia de imunofluorescência e quantificação do ácido nucleico viral, os cientistas demonstraram que a lactoferrina é capaz de inibir a infecção de ambos os vírus em até 80%. Os autores acreditam que a ação da proteína se deva ao bloqueio do acesso viral a receptores na superfície da célula.
De acordo com o coordenador do Laboratório de Bioquímica Estrutural da UNIRIO e coautor do estudo, Rafael Braga Gonçalves, caso os resultados da pesquisa in vitro se repitam em experimentos no organismo, seria possível utilizar a molécula para formulação de medicamentos que combatam as doenças causadas por esses vírus. “Para exercer essa função, a lactoferrina não precisaria estar presente, mas apenas parte dela ou, até mesmo, uma droga sintética com estrutura similar”.
Segundo o pesquisador, a proteína é também encontrada no corpo humano, em secreções como lágrima, saliva e sêmen, além do leite materno. “As versões humana e bovina têm cerca de 70% de similaridade na sequência de aminoácidos, e uma conformação muito parecida”, disse. Em ambos os casos, a função natural da molécula é transportar ferro e participar da defesa do organismo.
Atualmente, a lactoferrina é utilizada nos Estados Unidos e na Europa em mais de 15 produtos, como cremes dentais e cápsulas para fortalecimento do sistema imunológico.
(Reportagem: Gabriela Praça/Jornalista Comso)