Projeto de pesquisa da UNIRIO investiga impacto da ciguatera em Fernando de Noronha
Coordenado pela docente Silvia Mattos Nascimento, do Laboratório de Microalgas Marinhas da UNIRIO, o projeto “Qualidade ambiental e Ciguatera em Fernando de Noronha: abordagem interdisciplinar para dar subsídios à gestão da pesca e da segurança alimentar visando garantir a saúde humana e a economia azul” — também conhecido como CiguaNoronha — já realizou duas expedições neste ano, com financiamento do CNPq e apoio do ICMBio.
O projeto CiguaNoronha aposta em uma abordagem interdisciplinar para estudar as múltiplas dimensões do problema. Entre os objetivos estão a avaliação da qualidade da água nas diferentes unidades de conservação da ilha (Área de Proteção Ambiental e Parque Nacional Marinho), o estudo dos efeitos dos nutrientes e da temperatura sobre o crescimento do Gambierdiscus, e a análise de espécies de peixes locais — como a barracuda e a guarajuba — quanto à presença de ciguatoxinas e sua sanidade.
A primeira expedição do projeto foi realizada entre os dias 4 e 9 de maio deste ano, com uma equipe de oito pesquisadores de diferentes instituições do país. Durante esse período, foram coletadas amostras de dinoflagelados bentônicos, nutrientes, poluentes emergentes, microplásticos, assinatura isotópica de algas, toxinas, sanidade de peixes e cobertura bentônica da ilha. A segunda expedição ocorreu de 2 a 8 de junho, e outras duas estão previstas para os meses de julho e agosto.
Os dados gerados pela pesquisa têm o potencial de subsidiar políticas públicas voltadas à gestão ambiental e pesqueira na ilha, contribuindo para a mitigação dos efeitos da ciguatera, a proteção da biodiversidade marinha e a promoção da economia azul em Fernando de Noronha.
Sobre a ciguatera
A ciguatera é uma intoxicação alimentar, causada pelo consumo de peixes contaminados com ciguatoxinas, substâncias tóxicas produzidas pelo dinoflagelado Gambierdiscus. É típica de regiões tropicais e subtropicais e pode causar uma ampla gama de sintomas: desde náuseas e vômitos até formigamento, dores musculares, alterações neuropsiquiátricas e problemas cardiovasculares. Em alguns casos, os sintomas podem persistir por meses ou até anos.
Em 2022, o Brasil deixou de ser considerado livre da ciguatera. Desde então, mais de 150 casos foram registrados em Noronha, levantando alertas sobre os impactos da doença, não só na saúde dos moradores e visitantes, mas também na economia local, fortemente baseada na pesca e no turismo.