Abertura da SIA 2021 abordou cibernética e racismo algorítmico
Cibernética e racismo algorítmico foram alguns dos temas em debate na conferência de abertura da Semana de Integração Acadêmica (SIA 2021), na manhã desta segunda-feira, dia 18.
A atividade reuniu os docentes Catarina Morawska Vianna, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), e Gustavo Saldanha, da UNIRIO e do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), para discutirem sobre A transversalidade da ciência, tecnologia e inovações para o planeta. O professor Ronaldo Busse, da Escola de Matemática, atuou como mediador.
“É fundamental, neste momento, dar atenção especial aos nossos alunos que estão em formação no campo científico”, salientou a pró-reitora de Pós-Graduação, Pesquisa e Inovação, Evelyn Orrico, na abertura do evento. “Em um momento de tantas incertezas, a ciência se apresentou, mais uma vez, como mola mestra para resolver essa tragédia”, destacou, acrescentando que, graças ao trabalho dos cientistas, a população, hoje, pode ter esperanças de retomar a normalidade.
Para o pró-reitor de Graduação, Alcides Guarino, esta edição da SIA é a mais importante que já presenciou, justamente pelo momento atual. “Estamos vivendo pressões imensas de órgãos controladores que insistem em dizer que estamos parados, sem fazer absolutamente nada – e sabemos que isso não é verdade”, revelou, completando: “É nossa obrigação, como servidores públicos, mostrar para a sociedade o que estamos fazendo”.
O pró-reitor de Extensão, Jorge Ávila, manifestou sua satisfação com o sucesso de projetos que precisaram ser adaptados para a internet, diante do isolamento social. “A internet se mostrou um instrumento flexível o suficiente para permitir que fizéssemos tudo aquilo que estava programado”, comemorou. Além disso, segundo ele, novas oportunidades se revelaram. “O resultado foi muito bom e abriu nossa percepção para as possibilidades que a internet representa para a universidade pública”, apontou.
Já a diretora de Gestão Administrativa da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Prae) ressaltou a troca de conhecimento e experiências possibilitada pela SIA. “Estamos aqui para mostrar o nosso trabalho para alunos, professores e colaboradores, mesmo com tantas dificuldades”, salientou.
Transversalidades
A professora Catarina Morawska, docente do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UFSCar, deu início à conferência abordando a contribuição histórica da antropologia para a discussão sobre cibernética e inteligência artificial. “Desde o início, a cibernética se caracterizou por uma abordagem interdisciplinar: biologia, medicina, psicologia, matemática, ciências humanas”, enumerou, citando as Conferências Macy, realizadas nas décadas de 1940 e 1950, culminando com a fundação desse campo de estudos.
Ela discutiu, ainda, a tendência de colaboração entre cientistas sociais e cientistas da informação para desenvolver análises de dados nas comunidades on-line, e refletiu sobre como potencializar parcerias desse tipo, “para que possamos, efetivamente, responder a questões urgentes e atuais do nosso planeta”.
Em seguida, o professor Gustavo Saldanha traçou a “trama do transaber”, ao fazer um panorama histórico da ciência e do conhecimento. “Passamos de uma filosofia da ciência às ciências sociais quando chegamos à ciência da informação”, indicou. Saldanha atua como docente dos programas de pós-graduação em Ciência da Informação do Ibict e em Biblioteconomia da UNIRIO.
Ambos os conferencistas abordaram o chamado “racismo algorítmico”, caracterizado pela discriminação da imagem de pessoas negras por parte de programas de computador. “Alguns algoritmos são desenhados para identificar certos padrões de fenótipo”, sugeriu Catarina. “Como pensar o racismo na própria elaboração e no desenho desses algoritmos? Essa é uma discussão que está crescendo e é importante”, ressaltou.
Saldanha apontou o racismo estrutural como causa do fenômeno. “Vivemos numa estrutura de racismo não só estrutural, mas ‘interestrutural’, que está por trás dos gestos mais simples do nosso cotidiano: o olhar, a sobrancelha, o tipo de movimentação do corpo, do pescoço, tudo”, salientou. “Quando vamos programar uma máquina no sentido cibernético, para que ela seja pilotada por outrem, esses gestos estão ali também”.
A conferência completa está disponível no Canal Audiovisual da UNIRIO.
A SIA 2021 acontece até a próxima sexta-feira, dia 22, com apresentações de trabalhos, relatos de experiências e minicursos. Confira a programação completa.