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Hospital Universitário Gaffrée e Guinle

Campus HUGG

Rua Mariz e Barros, 775, Maracanã 

(imagens google)

 

Ano de inauguração: 1929

Ano de incorporação à UNIRIO: 1969

Fachada H U G G

Fachada principal do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle. Fonte: Rubim, 2017. 

O Hospital Universitário Gaffrée e Guinle, inaugurado em 1929 é um legítimo representante do estilo arquitetônico neocolonial, tendo sido o primeiro edifício construído neste estilo para esta atividade. O projeto do arquiteto Porto d’Ave vinha de encontro com os ideais nacionalistas da época e representava o que havia de mais moderno em arquitetura na época.

Ele foi criado a partir da iniciativa do filantropo Eduardo Guinle, num contexto de organização da saúde pública por parte do Estado, e num momento em que a população da capital federal enfrentava uma forte endemia de doenças venéreas. O HUGG reuniu personalidades importantes da área da saúde e foi exitoso na erradicação das principais doenças da época. 

Em 1966 ele é incorporado à Escola de Medicina e Cirurgia (EMC), que estava a procura de um imóvel para as suas atividades e aulas práticas e consequentemente passa a fazer parte da UNIRIO em 1969, quando do decreto de criação da FEFIERJ, que incluía a referida EMC.

Inúmeras foram as reformas feitas para a modernização e adequação do hospital às necessidades atuais, muitas vezes obras incompatíveis com o cuidado que se deve a um bem arquitetônico de tamanha grandeza. Entretanto, outras tantas ainda são necessárias para a continuidade das atividades de um hospital escola  em perfeita consonância com as normas vigentes. 

Atualmente o HUGG é um órgão suplementar da UNIRIO, constituindo um Centro de Assistência para a população, atendendo exclusivamente pelo SUS. Ele conta com 233 leitos e ambulatório de 125 consultórios e desenvolve programas como o Programa de Hanseníase, Programa de Diabetes, Programa de Tuberculose, Programa de Hipertensão, Programa de pré-natal e Programa de Atenção ao Idoso.

Tombamento: Decreto Municipal 23.236/2003

A motivação principal que levou ao tombamento do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle foi o fato deste ser um exemplar único do estilo arquitetônico neocolonial aplicado a uma edificação na área da saúde, construída com o propósito de ter este uso específico.  

O HUGG pode ser considerado um marco arquitetônico na paisagem urbana e marco histórico na área de saúde, sendo uma das principais instituições hospitalares do Brasil, na época. 

O processo de tombamento do HUGG o considera como conjunto arquitetônico, uma vez que foi estabelecida a criação de uma Área de Proteção de Entorno de Bem Tombado, que abrange os limites do seu terreno e inclui todas as edificações que ali existem.

Arquiteto Responsável: Porto d'Ave

O engenheiro Adelstano Porto d’Ave fazia parte da elite intelectual e econômica da sua época, tinha paixão por automobilismo e foi através deste meio em que conheceu os irmãos Guinle, com quem compartilhava ideais progressistas. 

Com o apoio de Guilherme Guinle, o arquiteto recebe o convite para projetar  o hospital da Fundação Gaffrée e Guinle, sua primeira grande oportunidade na carreira.  Esta obra lhe dá reconhecimento e prestígio gerando novos projetos no futuro, como o Hospital do Câncer, o Hospital das Clínicas e outros. Entretanto, apenas o Hospital Gaffrée e Guinle foi concluído com sucesso, sendo as demais obras marcadas por diversos problemas que impediram as suas finalizações. 

Uso e estado de conservação atual: 

O HUGG é um centro de assistência para a população que atende exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A sua capacidade de atendimento atende 233 leitos e um ambulatório com 125 consultórios e desenvolve programas preconizados pelo Ministério da Saúde, como o Programa de Hanseníase, Programa de Diabetes, Programa de Tuberculose, Programa de Hipertensão, Programa de Pré-Natal e Programa de Atenção ao Idoso. 

Em 2020 uma nova enfermaria pediátrica foi inaugurada, com capacidade de onze leitos, sendo um deles semi-intensivo para casos mais graves, com atendimento de diversas especialidades pediátricas e apoio para especialidades cirúrgicas. 

Por ser um edifício erguido no início do século passado, muitas das normas e da legislação vigentes, não existiam na época de sua construção, portanto, há uma grande dificuldade de adaptar as instalações existentes para as condições atuais. As dificuldades orçamentárias também são importantes e adicionam uma camada a mais de empecilho para as reformas necessárias.  

Apesar das inúmeras reformas, o hospital ainda encontra-se em vias de adaptar-se às normas sanitárias vigentes. Mesmo depois do tombamento algumas intervenções foram realizadas, sobretudo para a modernização dos ambientes, renovação tecnológica, para a manutenção predial e em especial para  o atendimento de normas sanitárias como a RDC-50, sem a qual o hospital pode sofrer sanções importantes, podendo levar até a interdição dos ambientes. 

Outras intervenções como as melhorias para a acessibilidade, a troca dos pisos, os fechamentos de vãos de portas e janelas para atender as demandas de refrigeração, as intervenções na fachada como a instalação de aparelhos de ar condicionado, antenas, tubulações e outros elementos espúrios são problemas para os quais ainda não se apresentou uma solução adequada e merecem atenção contínua. 

Descrição do bem: 

A tipologia adotada para o HUGG se assemelha a um hospital higienista, com pavilhões horizontais espaçados, com poucos andares, pé-direito alto, alas interligadas por corredores e com uma grande quantidade de janelas. O bloco principal possuia quatro andares e a instalação de elevadores foi considerada um avanço para a época. 

A planta do prédio principal é retangular, com duas alas longitudinais em disposição simétrica, configurando uma circulação em “U”, visando um maior isolamento entre as enfermarias e a separação dos fluxos de circulação do hospital. 

A caracterização da arquitetura neocolonial apresenta-se na fachada principal do edifício em elementos como os  “telhados em quatro águas com arremate tipo “asa de andorinha” nas pontas das telhas; beirais com cornijas; frontões curvilíneos com pinhas, painéis de azulejos e óculos ovais inclusos; colunas de fustes trabalhados; janelas e portas em arco (principalmente no térreo), venezianas, consolos e cercaduras em alvenaria, adornadas com coroas arqueadas e volutas, entre outros. Veem-se azulejaria e ornamentos em estuque com motivos sinuosos e espiralados por toda a fachada.” ¹ 

Entretanto, cabe observar que nas fachadas laterais, inclusive as do pátio, predominam os traços simétricos e austeros com vãos de janelas de vergas retas e de pouco ornamento, elementos típicos da arquitetura clássica. 

Os demais bens do conjunto arquitetônico, como o biotério, o castelo d’água,  o instituto de pesquisa e a capela também trazem elementos neoclássicos, como pórticos sinuosos, vitrais e painéis em azulejo decorado. 

Nos vitrais da escadaria principal do Instituto de Pesquisa do Gaffrée e Guinle foram homenageados grandes nomes da pesquisa mundial em bacteriologia, como Louis Pasteur, Robert Koch e o bacteriologista Oswaldo Cruz. 

Entre os anos 1960 e 1990 o hospital passou por algumas intervenções arquitetônicas como a construção de anexos e ampliações que alteraram a arquitetura e volumetria original em algum nível. 

Ao todo dez edifícios, de tamanhos e funções diversas foram construídos neste período, entre eles, o Centro Multidisciplinar de Pesquisa e Extensão sobre Envelhecimento, a ala da pediatria, ala de oncologia, a divisão de nutrição/refeitório/cozinha e a subestação. 

Foram inúmeras as alterações e ampliações executadas, como a alteração de divisões internas existentes e a construção de novos pavimentos internos através da instalação de mezaninos. No térreo, o fechamento de alguns pátios internos propiciou a criação de novos espaços, como o centro cirúrgico, construído em 1975. 

Embora estes anexos e ampliações tenham sido uma resposta para as novas necessidades do hospital, elas descaracterizaram consideravelmente as fachadas e alteraram os acessos do edifício e se apresentam em desarmonia com as unidades preexistentes, sob o ponto de vista do patrimônio. 

O  hospital correspondia aos avanços da época para este tipo de edificação, de acordo com a avaliação do engenheiro Licínio Cardoso. Ele era moderno em seu programa e projeto arquitetônico, era urbano, socioeducativo, por propiciar a integração entre pesquisa e estudos e era de fácil acesso, além de ser uma edificação alegre e atraente em termos estéticos. 

 

 

vitrais

 

Vitrais do Instituto de Pesquisa - Louis Pasteur, Robert Koch e Oswaldo Cruz. Fonte: https://agencia.fiocruz.br/exposi%C3%A7%C3%A3o-e-artigo-recuperam-a-trajet%C3%B3ria-do-profissional-que-renovou-a-arquitetura-hospitalar, acessado em 16/11/2021. 

Histórico:

A construção de um hospital de grande porte em estilo arquitetônico neocolonial vem de encontro às discussões nacionalistas da época, onde se buscava uma identidade nacional para o Brasil e este era o estilo que, naquele momento, se entendia como o melhor representante deste ideal. 

A ideia da criação de um hospital para o tratamento de doenças venéreas, vem do seu patrono, o filantropo Guilherme Guinle, que criou a Fundação Gaffrée e Guinle para gerir a sua atuação filantrópica, em memória dos empresários Eduardo Guinle, seu pai, e Cândido Gaffrée, amigo íntimo da família. 

A Fundação Gaffrée e Guinle tinha um grandioso projeto de combate às endemias venéreas que se espalhava pela cidade e para isso desejavam construir um complexo hospitalar para atendimento e pesquisa  e uma rede de ambulatórios pela cidade. A manutenção do hospital e o seu aparelhamento ficariam a cargo do governo federal e das doações privadas. 

O Hospital contou com um corpo técnico composto pelas principais personalidades de destaque da época e tornou-se reconhecido nacional e internacionalmente no controle dessas doenças. Ele foi fundamental no controle e pesquisa de diversas doenças na Capital Federal, em especial, a sífilis. 

O Hospital Gaffrée e Guinle foi bastante noticiado na época e tanto a imprensa técnica quanto a comum,  buscaram em suas matérias enaltecer a  grandiosidade das instalações do hospital e a moderna abordagem no tratamento da sífilis, depositando inclusive esperanças num futuro melhor para o povo. 

Na década de 1940, começam a surgir os problemas financeiros. Os custos para manter o hospital eram imensos e os subsídios do governo, assim como as doações privadas eram inconstantes e insuficientes para manter um projeto de tal magnitude. 

Apesar disso, há êxito no combate às doenças venéreas, como a sífilis, levando ao seu quase desaparecimento na década de 1950. Paradoxalmente, o sucesso do tratamento leva a diminuição dos pacientes atendidos, esvaziando a missão para a qual o hospital fora projetado. 

Na década de 1960 com as dificuldades financeiras agravadas, o hospital passa a alugar suas dependências para outras instituições, como o Serviço Nacional do Câncer e a Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, como forma de diversificar seus serviços de saúde. 

Em 1966 o hospital é incorporado à Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro que procurava um prédio próprio para as suas atividades e passa a ser um hospital escola, com o ensino prático agregado às suas atividades de assistência e pesquisa.  

 

Desenho inicial de Porto d’Ave para a fachada principal do Hospital Gaffrée e Guinle (1922-1923). Fonte: RUBIM, 2017, apud Fundo Porto d’Ave (COC/FIOCRUZ).

¹ RUBIM, Cláudia Mazarakis. A preservação de um patrimônio edificado da saúde no Rio de Janeiro: O Hospital Universitário Gaffrée e Guinle. Dissertação (Mestrado em Arquitetura). Programa de Pós-Graduação em Arquitetura. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro - FAU/UFRJ. Rio de Janeiro. p.76. 2017.