Tópicos especiais III
Título: "Tópicos Especiais em Processos Criativos: Escutar escutas"
Profa. Dra. Lílian Campesato
Como posso compartilhar minha própria escuta? Como o ato de escutar pode ser compreendido no decorrer de sua construção, no corpo que afeta, no processo de desencadeamento de sensações? Como conectar a escuta como um conceito geral a uma experiência particular? Essas questões não são movidas apenas pela curiosidade, mas pelo desejo de tomar a escuta como um lugar de conhecimento e o som como suporte para compartilhar subjetividades. Esse tema tem sido debatido com frequência crescente no campo dos estudos do som e implica uma aproximação entre uma epistemologia da escuta e uma prática de construção de sentidos a partir do desejo de compartilhar a escuta. Ao contrário de outros tipos de representação (verbal, visual, matemática, etc.) que têm suas próprias formas de enunciação, dificilmente podemos compartilhar nossas impressões auditivas, pois depende de uma compreensão pessoal do estímulo e da experiência de vida de cada um. Posso escrever sobre um conceito, desenhar um objeto ou traduzir o comportamento de um fenômeno usando uma função numérica. Mas quando pretendo expressar o que escuto, não posso fazer mais do que recorrer a metáforas visuais e descrições imprecisas. Apesar disso, muito do que fazemos e sabemos ocorre no domínio da auralidade. Esse curso pretende experimentar estratégias de compartilhamento da escuta por meio de processos criativos na tentativa de investigar como processos subjetivos da escuta podem ser comunicados por meios não verbais. Para isso, o curso parte de uma discussão teórica sobre escuta e se desdobra em uma etapa prática em que as/os estudantes irão realizar exercícios criativos de compartilhamento de suas próprias escutas.
Bibliografia
Bonafé, V.; Campesato, Lílian. (2021) "'Many voices, resonating from different times and spaces': a script for an imaginary radiophonic piece on Janete El Haouli." Feminist Review, v.127, 141-149.
Born, G. (2019). "On nonhuman sound: sound as relations". In Sound Objects, ed. James A. Steintrager and Rey Chow, 185-210. Durham. N.C.: Duke University Press.
Caesar, R. (2007). "As grandes orelhas da escuta". notas . atos . gestos. S. Ferraz. Rio de Janeiro 7 Letras: 31-52.
Caesar, Rodolfo. (2020) “Apontamentos para espetar o som”. MusiMid 1, no. 1. pp. 82-87.
Campesato, Lílian; Bonafé, Valéria. (2019) "A conversa enquanto método para emergência da escuta de si." Revista Debates - Cadernos do Programa em pós Graduação da Unirio , v.1, p.28 - 52.
Clough, P. T. (2013) "My mother's scream". In: Sound, Music, Affect: theorizing sonic experience. Edited by Marie Thompson and Ian Biddle. New York: Bloomsbury.
Cusick, S. G. (2013). "Towards an acoustemology of detention in the 'global war on terror'. In: Music, Sound and Space: transformations of public and private experience. Georgina Born (Ed). Cambridge university press, 275-291.
DeNora, T. (2000) Music in Everyday Life. Cambridge; New York: Cambridge University Press.
Eidsheim, Nina Sun. (2019) The Race of Sound: Listening, Timbre, and Vocality in African American Music. Illustrated edition. Durham: Duke University Press Books.
Erlmann, V. (2010). Reason and Resonance: A History of Modern Aurality. New York: Zone Books.
Feld, S.(2003) “A rainforest acoustemology”, In: The auditory culture reader, 223-240. Michael Bull e Les Back. Berg.
Goodman, S. (2010). Sonic Warfare: sound, affect, and the ecology of fear. Cambridge: The MIT Press.
Librandi, Marília. (2020). Escrever de ouvido: Clarice Lispector e os romances da escuta. Belo Horizonte, MG: Relicário.
Lima, Henrique R. S. (2018) "Otografia", in: Desenho de Escuta: políticas da auralidade na era do áudio ubíquo. PhD Thesis, University of São Paulo. pp. 325-331.
Lima, Henrique Souza, Gustavo Branco Germano, Lílian Campesato, Lucia Nogueira Esteves, Marina Mapurunga, Valéria Bonafé, Vicente Reis. (2021) "Between Control and More-than-Human Events: The Listening Experience in the Light of Speculative Pragmatism." AM Journal of Art and Media Studies 24: 29–39. DOI: 10.25038/am.v0i24.419
Lingold, C.; Mueller, D.; Trettien, W. (eds.). (2018). Digital Sound Studies. Duke University Press, 2018.
Nancy, J-L. (2002). À L'écoute. Paris: Galilée.
Ochoa Gautier, A. M. (2014). Aurality: listening and knowledge in the nineteenth-century Colombia. Durham: Duke University Press.
Oliveros, Pauline. (2005). Deep Listening: A Composer’s Sound Practice. New York, NY: Universe, Inc.
Radano, R., & Olaniyan T. (eds). (2016). Audible Empire: Music, Global, Politics, Critique. Durham: Duke University Press.
Schaeffer, P. (1966). Traité Des Objets Musicaux . Éditions du Seuil.
Steingo, G.; Sykes, J. (eds) (2019). Remapping Sound Studies. Duke University Press.
Sterne, J. The Sound Studies Reader. (2012). New York: Routledge.