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APLICANDO A CIÊNCIA DOS ALIMENTOS NA MATEMÁTICA

Autoria - Édira Castello Branco de Andrade Gonçalves

INTRODUÇÃO

    Trabalhar o conteúdo matemático estabelecido para cada ano de formação é um grande desafio para os professores, considerando o interesse em querer construir o conceito com o propósito do estudante efetivamente compreender (LAGO; GOMES, 2019; LOPES, 2018). Metodologias que promovam o aprendizado calçado na realidade propiciam a redução do grau de dificuldade que envolve a matemática (Silva & Almeida, 2019). O interesse em compreender o ensino e a aprendizagem da álgebra é recente (final dos anos 80 e início dos anos 90 do século passado) e a maior parte dos estudos realizados nesta temática conclui que o pensamento algébrico é o centro da aprendizagem do aluno (HILÁRIO et al., 2021).

    Uma das dificuldades de aprendizado da matemática é a não percepção, ou interesse do aluno nas atividades utilizadas para a abordagem de um dado tema. Mesmo associada ao cotidiano, essa abordagem pode não surtir o efeito esperado no aprendizado, pois nem sempre está relacionada à vivência do aluno. Sendo assim, cabe ao professor promover experiências ricas e instigantes que propiciem um bom aprendizado (CEZARIO et al., 2020).

    O processo de aprendizagem realizado de forma lúdica, relacionado com o conceito de brincar, favorece o desenvolvimento da linguagem, do raciocínio, da socialização, da iniciativa e da autoestima (MARRETI FELIX et al., 2021). Debater a saúde e a alimentação saudável no ambiente escolar é desejável. Sendo assim, adotar estratégias que integrem esta temática no projeto político pedagógico das escolas propiciará ações efetivas quanto ao binômio saúde x alimentação (PIASETZKI; BOFF, 2018).

    Mesmo não sendo mais praticada pelo atual guia alimentar, a pirâmide alimentar é bastante conhecida e ainda muito explorada em livros didáticos de ciências no ensino fundamental (COSTA; VINCHA; CARNEIRO, 2021), tornando-se muito útil nas atividades lúdicas desenvolvidas neste nível de formação educacional (REIS; SANTOS REINALDO, 2020) e, também, na análise da rotulagem nutricional (LOPES; CARVALHO; MACHADO, 2022).

    O objetivo desta atividade é explorar os conceitos porcentagem e combinatória utilizando a ciência dos alimentos, no que diz respeito à composição dos nutrientes e assim, grupos de alimentos e, ainda, análise da rotulagem nutricional.

 

2. METODOLOGIA

 

     Para o desenvolvimento das atividades propostas será necessário quadro branco, datashow e computador, preferencialmente com acesso a internet. Para melhor aproveitamento dos participantes, sugere-se até 30 participantes presenciais, podendo, a critério e estrutura disponibilizada para tal, oferecer, concomitantemente de forma remota, sem limite de participantes. Estarão sendo abordados os temas porcentagem e combinatória explorando as temáticas associadas a composição dos macronutrientes em alimentos, detalhados a seguir:

 

2.1. Conhecendo a pirâmide alimentar com o foco na ciência dos alimentos

          A pirâmide alimentar estará sendo apresentada, indicando a construção da mesma com base nas proporções majoritárias dos macronutrientes e a divisão em grupos fontes de nutrientes e compostos bioativos. A pirâmide padrão que será utilizada está apresentada na Figura 1.   

Figura 1 – Pirâmide alimentar

Fonte: (“Pirâmide Alimentar: grupos e atualização ”, [s.d.])

 

2.2. Explorando a pirâmide alimentar na combinação dos alimentos

 

            A partir da quantidade de porções recomendadas para o consumo diário (OPAS, [s.d.]), a saber:  grupo 1 (6 porções), grupo 2 (3 porções), grupo 3 (3 porções), grupo 4 (3 porções), grupo 5 (1 porção) e grupo 6 (1 porção), estarão sendo propostos os seguintes questionamentos:

 

I – João está almoçando na pensão da Vovó Didira que gosta muito de matemática. O cardápio é apresentado da seguinte forma:

 

Escolha uma opção de proteína, acompanhamentos e fruta.

 

Proteína: bife, coxa de frango ou peixe

Acompanhamentos: a) arroz, feijão e repolho ou b) arroz, feijão ou salada de tomate

Fruta: mamão, laranja ou banana.

 

Valor da refeição – R$ 11,30

 

Quer desconto de 25%?  Responda o desafio: quantas possibilidades de combinação de refeição você tem?

 

João quer o desconto, assim, aceitou o desafio. A resposta de João foi 18. Quanto João pagou pela refeição? Justifique, demonstrando os cálculos.

 

II) João foi orientado pelo nutricionista para consumir no almoço: 2 porções  de alimentos dos grupos 1 e 2, 1 porção de alimentos dos grupos 5 e 6.   A partir da tabela 1, escolha o que irá almoçar, indicando a quantidade de cada item escolhido.

 

 

 

Tabela 1 – Teor de macronutrientes em diferentes produtos

PRODUTOS 

Porção

Proteínas (g)

Lipídeos (g)

Carboidratos

(g)

Arroz cozido (grupo 1)

1 colher de sopa (16g)

0,42

0,07

4,5

Feijão (grupo 6)

1 colher de sopa (5,3g)

0,24

0,03

0,74

Salada de legumes com maionese 
(grupo 2)

1 colher sopa (9g)

0,1

0,63

6,3

Salada de batata com maionese (grupo 1)

1 colher sopa (10g)

0,18

3,1

2,0

Salada de vegetais crus com azeite de oliva e com sal (grupo 2)

1 colher sopa (10g)

0,11

1,1

1,2

Torta de batata com carne (grupos 1 e 5)

1 colher sopa (10g)

3,6

3,2

4,0

Empada de frango (grupos 1 e 5)

1 unidade

6,9

15,6

47,5

Salsicha tradicional com molho de tomate (grupos 2 e 5)

2 unidades

11,4

16,5

7,84

Sanduíche, cachorro quente, (com pão para hot dog e salsicha de frango), com ketchup, mostarda, maionese, milho, ervilha, purê de batata, molho vinagrete e batata palha

(grupos 1, 2, 5 e 6)

 

 

1 unidade

 

17,8

 

25,1

 

70,5

Fonte - (Tabela Brasileira de Composição de Alimentos - USP, n.d.)

 

2.3. Explorando a porcentagem analisando a rotulagem nutricional

 

     Estará sendo apresentado o novo modelo de rotulagem nutricional, figura 2, que entrou em vigor em 10/2022, com limite máximo para adequação pelos fabricantes de alimentos em geral, para 10/2023 e agricultor familiar ou empreendedor familiar rural, 10/2024.

 

Figura 2 – Tabela informação nutricional

 Tabela

 Fonte - (ANVISA, [s.d.])

    

 A partir da análise do rótulo de três produtos comerciais não identificados (figura 3) estarão sendo propostos os seguintes questionamentos:

 

I - Para manter uma boa saúde é indicado o consumo diário de 1500mg de sódio (NIH, [s.d.]) . João consumiu no lanche 5 porções de biscoito e Maria consumiu 2 unidades de bolo. Ambos consumiram salada no almoço, utilizando, cada um, 2 pitadas de sal. Agora estão indo para o cinema, e estão se questionando: quanto de sal poderão colocar na pipoca? Maria diz que cada um pode colocar a mesma quantidade de sal para não ultrapassar a quantidade de sódio recomendada para consumo diário. João diz que ele pode colocar, em sua pipoca 15% a mais de sal que Maria. Quem está certo? Justifique demonstrando os cálculos

 

II – João sabe que o consumo médio de calorias por dia deve ser de 2000. Ele sabe que no lanche, a Maria consumiu 10% deste valor. Quantos biscoitos João deveria ter consumido no lanche para corresponder a mesma quantidade de calorias que Maria consumiu?

  

 

Figura 3 – Informação nutricional produtos comerciais a) biscoito, b) bolo e  c) sal marinho

 

a)Rot1

 

b)Rot2

 

 

 

c)Rot3

Fonte: Bing images

 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

     Existem alguns desafios para que a formação de um cidadão, entendendo que esta engloba educação, saúde e cultura, em nosso país seja realmente considerada satisfatória. Dois destes desafios, o aprendizado da matemática e a alimentação saudável, são explorados de forma conjunta, lúdica e com a pretensão de semear o interesse no conhecimento do alimento, permitindo escolhas conscientes. A intenção é desmistificar conceitos básicos da ciência da matemática, incorporando no cotidiano, outros exemplos além dos tradicionalmente explorados nas diferentes referências e livros didáticos.

      A proposta apresentada indica um dos muitos caminhos que podem ser utilizados na relação da educação nutricional com a matemática. Acredita-se que tal caminho, com o interesse nato na alimentação, pode aguçar a curiosidade e o interesse dos alunos em ambas as áreas, ciência de alimentos e ciência dos números e operações numéricas

 

REFERÊNCIAS

 ANVISA. Rotulagem nutricional. Disponível em: <https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/alimentos/rotulagem/principais-mudancas-e-modelos>. Acesso em: 7 jul. 2023.

CEZARIO, A. DA S. O. et al. Evaluation of the use of mathematical knowledge in the daily lives of high school students in Cajazeirinhas/PB. Research, Society and Development, v. 9, n. 8, p. e371985732, jul. 2020.

COSTA, G. B.; VINCHA, K. R. R.; CARNEIRO, A. C. L. L. Abordagem do Guia Alimentar para a População Brasileira em livros de ciências do ensino fundamental. Demetra: Alimentação, Nutrição e Saúde, v. 16, p. e51578–e51578, 2021.

HILÁRIO, C. et al. Pensamento Algébrico na aprendizagem de equações do 1o grau. Revista Eletrônica de Educação Matemática, v. 16, p. 1–18, 2021.

LAGO, A. S.; GOMES, L. P. S. Resolução de problemas e o ensino de sistemas de equações do 1o grau: reflexões de um grupo de Professores de Matemática. Revista Interfaces da Educação, v. 10, n. 28, p. 144–167, 2019.

LOPES, J. F.; CARVALHO, M. DE A.; MACHADO, N. C. Rotulagem de alérgenos alimentares em alimentos embalados segundo grupos alimentares da pirâmide brasileira: análise da descrição, riscos e ambiguidades. Revista paulista de pediatria, v. 40, 2022.

LOPES, T. B. Ensino de falsas operações matemáticas como agente dificultador na aprendizagem de equações do 1o grau. Revista Cocar, v. 12, n. 23, p. 10–33, 2018.

MARRETI FELIX, A. et al. Qualitative Analysis of the “Healthy Growing at School Program” - Vision of Health Professionals, School Community and Family. Journal of Human Growth and Development, v. 31, n. 1, p. 76–83, 28 abr. 2021.

NIH. Nutrient Recommendations and Databases. Disponível em: <https://ods.od.nih.gov/HealthInformation/nutrientrecommendations.aspx>. Acesso em: 7 jul. 2023.

OPAS. Alimentação saudável. Disponível em: <https://www.paho.org/pt/topicos/alimentacao-saudavel>. Acesso em: 7 jul. 2023.

PIASETZKI, C. T. DA R.; BOFF, E. T. DE O. Educação Alimentar E Nutricional E a Formação De Hábitos Alimentares Na Infância. Revista Contexto & Educação, v. 33, n. 106, p. 318, 2018.

Pirâmide Alimentar: grupos e atualização . Disponível em: <https://www.todoestudo.com.br/biologia/piramide-alimentar>. Acesso em: 7 jul. 2023.

REIS, W. A. DOS; SANTOS REINALDO, A. M. DOS. Estratégias de Educação Alimentar e Nutricional no ambiente escolar: uma revisão integrativa. Revista de atenção primária saúde, v. 21, n. 4, 2020.

SILVA, N. R. DA; ALMEIDA, J. J. P. DE. Mathematical modeling: a methodological alternative for basic education. Research, Society and Development, v. 8, n. 3, p. e4083805, jan. 2019.

Tabela Brasileira de Composição de Alimentos - USP. Disponível em: <http://www.intranet.fcf.usp.br/tabela/resultado.asp?IDLetter=C&IDNumber=579>. Acesso em: 08 jul. 2023.