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Dos quadrinhos para a sala de aula

por Comso publicado 28/07/2014 15h45, última modificação 30/08/2019 13h53

Fenômeno da cultura pop, as histórias em quadrinhos (HQs) viraram ferramenta de ensino no Instituto de Biociências da UNIRIO. Nas aulas de Zoologia ministradas no curso de Ciências Biológicas pelo professor Elidiomar Ribeiro da Silva, os estudantes são instigados a analisar características de personagens da Marvel e da DC (principais editoras de HQs do mundo) baseados em animais.

A lista é grande: vai desde personagens consagrados, como o clássico Homem-Aranha, até figuras menos conhecidas do público, como Arcano, Tarântula, Besouro Bisonho, Rastejadora e Pulga. Na sala de aula e em atividades extraclasses, os alunos observam e comparam personagens influenciados pelo mundo animal – mais especificamente pelo grupo dos artrópodos, que inclui aranhas, insetos e crustáceos –, e fazem uma análise à luz da Zoologia.

“Sempre tive interesse na relação entre o mundo acadêmico e a cultura popular. Comecei a observar uma resposta muito positiva cada vez que eu incluía elementos da cultura nas minhas aulas. Depois de cinco horas de teoria, com detalhes da anatomia e da morfologia de cada bicho, os alunos ficavam entediados e perdiam o interesse. Mas quando eu usava como exemplo algum personagem dos quadrinhos, eles perguntavam mais. E passaram a buscar a presença do conteúdo ensinado em notícias na internet, em seriados de TV e nas HQs”, explica Elidiomar, docente do Departamento de Zoologia e coordenador do Laboratório de Insetos Aquáticos da UNIRIO.

Mundo de vilões

Das análises obtidas pelos estudantes, surgiram constatações curiosas. Uma delas é que a maior parte dos personagens inspirados em aracnídeos é composta por vilões. Para Elidiomar, a percepção dos autores das HQs segue a do público em geral, de que aranhas, escorpiões e outros espécimes são perigosos e nocivos ao homem.

“Já esperávamos isso. Mas temos uma exceção absolutamente honrosa, que é o Homem-Aranha. As pessoas se identificaram com ele, e aí houve uma mudança no paradigma. As aranhas, que eram vistas somente como vilãs, tiveram um personagem heroico, que fez um sucesso estrondoso”, observa o professor.

O mesmo padrão é observado nos estudos com os crustáceos, inspiração para mais de 100 personagens da Marvel e da DC, quase todos vilões. “Os crustáceos têm uma morfologia muito peculiar, com suas quelas [pinças] ameaçadoras. Talvez por isso sejam considerados bons antagonistas aos personagens principais”, explica Elidiomar.

Os estudantes também avaliam possíveis incorreções na morfologia desses heróis e vilões. Uma aranha, por exemplo, pode possuir cabeça nos quadrinhos, mas os alunos devem apontar que, na realidade, esses animais têm uma estrutura única que agrupa cabeça e tórax, o cefalotórax.

Desdobramentos científicos

Além de tornar as aulas da graduação mais dinâmicas e divertidas, as atividades desenvolvidas por Elidiomar e seus estudantes já começaram a gerar frutos acadêmicos. O primeiro artigo científico sobre a pesquisa com HQs acaba de ser publicado na Enciclopédia Biosfera (A Zoologia de Sete Soldados da Vitória: Análise dos animais presentes na obra e sua possível utilização para fins didáticos). E a expectativa é que, até o fim do ano, outros cinco sejam submetidos para publicação.

Antes do artigo, porém, alguns trabalhos já haviam sido apresentados em congressos científicos, na forma de pôsteres, com recepção bastante positiva. “Qualquer ideia diferente do convencional pode não ter uma aceitação imediata. Tinha medo de que isso acontecesse com nossa pesquisa. Mas comecei a mandar propostas para congressos, que foram muito bem aceitas. E todas tiveram sucesso nas apresentações”, enfatiza o professor.

Elidiomar destaca ainda a importância de se aproximar as pessoas da ciência. “Vejo como positivo o conhecimento que tem aplicação e uso imediato. No nosso caso, não se trata da cura de uma doença, mas de uma ferramenta que pode ser aplicada de várias formas: para desenvolver o gosto pelos animais e pela natureza, despertar o interesse pela ciência e aguçar o espírito crítico, o que é fundamental.”

Um dos pôsteres apresentados por Elidiomar e seus estudantes em congresso científico (Imagem: Divulgação)

(Reportagem: Daniela Oliveira/Jornalista Comso)


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