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Professor da UNIRIO investiga conexões globais da cidade de Salvador no período colonial

por Comunicação publicado 16/03/2022 14h48, última modificação 27/01/2023 16h43
Revelação contrasta com a imagem predominante do Brasil à época, caracterizado como território isolado cuja única função era suprir a metrópole

Idade Moderna, séculos XVI a XVIII. No continente americano, uma cidade funcionava como centro mercantil global, exercendo papel de destaque na ampla rede de conexões sociais e econômicas entre Europa Ocidental, África Subsaariana e Oceano Índico. Agricultores locais exportavam sua produção para uma grande diversidade de regiões, da América do Norte até o extremo Oriente, e embarcações vindas de terras longínquas atracavam por lá para reparos, antes de seguirem viagem.

A cidade era Salvador, fundada em 29 de março de 1549 como capital do Estado do Brasil. Compreender seu papel no mundo daquela época é o desafio da pesquisa Conexões Globais de uma Capital Colonial: comércio, escravidão e poder em Salvador (1549-1763). O projeto é coordenado pelo professor da Escola de História da UNIRIO Thiago Krause, em parceria com o historiador Christopher Ebert, do Brooklyn College/City University of New York, nos Estados Unidos.

Salvador foi a maior cidade do litoral Atlântico nas Américas até o final do século XVIII”, destaca Krause. O professor ressalta que, para os padrões da época, a capital brasileira era um polo mercantil pujante e até sofisticado, constituindo-se na segunda maior cidade do Império Português, atrás apenas de Lisboa, a partir do final do Seiscentos. Para ele, as múltiplas conexões comerciais evidenciam que o território brasileiro não era apenas “um grande canavial”, como muitos ainda pensam.

A revelação contrasta com a imagem predominante do Brasil Colonial, geralmente caracterizado como território isolado, cuja única função econômica era suprir Portugal. Nas últimas décadas, a historiografia avançou ao constatar também a centralidade da relação com a África, mas, segundo o professor, as conexões diretas e indiretas estabelecidas por Salvador iam muito além desses espaços, como é possível perceber ao se investigar a documentação depositada em outros países e produzida em outras línguas.

Krause pretende salientar as interconexões comerciais que cruzavam o mundo atlântico à época, “evidenciando a impossibilidade de recortá-lo simplisticamente em esferas imperiais de influência”. A empreitada, inédita na historiografia brasileira, envolve vasta pesquisa documental em 34 arquivos espalhados por 22 cidades, dez países e quatro continentes, com fontes em sete idiomas.

Exportação

O açúcar era o mais notável produto baiano, mas a pesquisa se volta para outros dois artigos: ouro e tabaco. No caso do ouro, Salvador dividia com a cidade do Rio de Janeiro o escoamento do metal extraído na Colônia. Já o tabaco brasileiro era considerado de alta qualidade: de acordo com Krause, mesmo as folhas tidas como “inferiores” eram apreciadas, devido à técnica de produção utilizada, que envolvia a cobertura com melado de cana antes da secagem, resultando em um produto com paladar mais doce.

O transporte era feito em navios negreiros que partiam com destino à África Ocidental, onde se fazia comércio com ingleses, franceses, holandeses e, até mesmo, brandemburgueses (alemães) e dinamarqueses. Após a venda dos produtos, as embarcações retornavam à cidade trazendo negros. Segundo o pesquisador, a “Capital da Alegria” detém o triste título de cidade que mais recebeu africanos escravizados nas Américas até meados do século XVIII, quando foi ultrapassada pelo Rio de Janeiro.

Devido à sua localização estratégica, a cidade também se tornaria uma espécie de “porto de reparos”, prestando serviços para navios vindos da África e da Ásia que faziam paradas por lá. Chegavam embarcações de Macau, na China, de Goa, na Índia, e de muitos outros portos, portugueses ou não.

Crédito: Krause/Ebert

Colônias

Havia também trocas comerciais com outras colônias na América do Sul. Segundo Krause, Salvador vendia para Buenos Aires, na atual Argentina, indivíduos escravizados considerados “ruins” para o trabalho – muitos deles ainda na infância e, por vezes, doentes. Como pagamento, recebia-se prata proveniente de Potosí, na Bolívia, levada para a Argentina para comprar os africanos comercializados na região. “A prata que circulava em Salvador vinha do contrabando com Buenos Aires”, salienta.

A pesquisa já deu origem ao artigo Dutch’s Republic Brazil Trade after 1654 (O Comércio da República Holandesa com o Brasil após 1654), a ser publicado como capítulo da obra Pursuing Empire, organizada pela professora Cátia Antunes, com lançamento previsto para este mês pela editora Brill. Atualmente, o professor está em viagem à Espanha, onde passará cinco semanas investigando o contrabando com Buenos Aires e o comércio de tabaco baiano – um dos mais consumidos no país europeu naquela época.

O objetivo é publicar um livro, em inglês e português, sobre as relações comerciais de Salvador no período colonial. A partir do segundo semestre, Krause dará início a seu estágio pós-doutoral no Instituto de Estudos Avançados de Princeton (Estados Unidos). O período, que se estenderá até 2023, será dedicado à escrita do trabalho. O projeto tem financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), da Fundação Carolina, da Espanha, e da Tow Foundation, dos Estados Unidos.

Montanus, 1671, "Urbs Salvador"

(Gabriella Praça/UNIRIO)

registrado em: Ciência na UNIRIO

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