Gilberto Gil ao vivo na USP, 1973: voz e violão em contexto
Este projeto visa estudar o espetáculo “clandestino”, até então muito pouco apreciado nos estudos de música popular, que o cantor, violonista e compositor Gilberto Gil fez na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo-USP, em maio de 1973. O concerto foi organizado pelo movimento estudantil, um grupo que se esforçou para denunciar e combater a repressão da ditadura instituída no Brasil em 1964 por meio do golpe militar. Depois de agitar a cena cultural como um dos principais artistas da Tropicália, Gilberto Gil foi preso e exilado pelo regime militar, e mudou-se para Londres (1969 a 1972). Lá, ele teve a chance de viver e experimentar diretamente o movimento contracultural europeu. Em quase três horas de show na USP, o repertório de Gil integra estilos brasileiros como samba, bossa nova, baião, xote, ijexá e capoeira com rock britânico, blues e jazz norteamericanos, além de traços do raga indiano. O principal objetivo deste projeto é analisar como Gil combina esses estilos em sua performance. Para tanto, vou transcrever músicas selecionadas e analisar conexões socioculturais presentes em seu estilo de tocar violão e em suas improvisações vocais. Algumas das questões que esta pesquisa pretende elucidar incluem: como Gil traduz diferentes gêneros brasileiros em seu violão; como o seu sotaque nordestino de cantar e tocar também engloba elementos do rock, blues, jazz e raga indiano; e como a combinação de elementos musicais com suas declarações e letras é usada para fomentar traços da contracultura no Brasil.