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"Filho de peixe, peixinho é": aprendizado atorial em âmbito familiar no teatro brasileiro

Coordenadora: Ângela Reis

Descrição: Habitualmente associada ao universo circense, a formação pelo aprendizado familiar é de grande importância na história do teatro brasileiro, no século XIX como ao longo do século XX. “A família, portadora de saberes e práticas presentes na memória preservada de seus antepassados” (TELLES, 2009: 92), fez parte não apenas da construção do circo no país como também do nosso teatro. Antes da Escola Dramática Municipal (atual Martins Pena, no Rio de Janeiro), primeira escola de teatro fundada no Brasil, em 1908, não havia uma educação teatral formal, sendo o aprendizado profissional dos atores e atrizes feito através da prática e pela formação familiar (sendo essa também prática): "A formação atorial familiar é responsável pelo aprendizado artístico inicial que vai sendo aprimorado no enfrentamento com o fazer teatral, ou seja, assimilando técnicas de atuação pela vivência atorial em cada montagem e não de um conjunto de conhecimentos formalizados a priori. Mesmo no caso dos atores que se especializavam em tipos, a testagem e a afinação deste aprendizado ocorre na cena diante do espectador" (TELLES, 2009: 92). A tradição do aprendizado familiar, sendo facilmente encontrável em muitos momentos importantes do teatro universal, como a Comédia dell’Arte, e mantida até hoje pelo circo, começou a ser substituída na Europa pela implantação de novas estruturas teatrais a partir do fim do século XIX. No Brasil, embora a manutenção destas estruturas tenha permitido a permanência da tradição familiar até boa parte do século XX, a regulamentação da profissão de ator na década de 70 trouxe novas exigências para a formação deste tipo de profissional; concomitantemente, o declínio das companhias também abalou este modelo de aprendizado, que praticamente desapareceu. No entanto, ecos dessa tradição podem ser encontrados na trajetória de atores e atrizes brasileiros, sendo vários os exemplos de dinastias de trabalhadores do palco, em que membros de diversas gerações compartilharam uns com os outros o exercício da cena, sendo avôs, avós, pais, mães, tios e tias os primeiros companheiros de atuação de atores e atrizes célebres: Dulcina de Moraes, pertencente à terceira geração de uma família teatral, que ainda se estendeu por mais uma geração; Bibi Ferreira, neta, sobrinha e filha de artistas não só do teatro como também do circo; e Marília Pêra, de igual modo neta, sobrinha e filha e também irmã e mãe de atores - sendo as duas últimas o foco da etapa inicial da pesquisa.