Evento discute saúde, direitos humanos e democracia no mundo contemporâneo
Capitalismo, migrações e saúde mental foram alguns dos temas debatidos no I Simpósio Internacional & III Jornada do Instituto de Saúde Coletiva, que aconteceram na última quinta-feira, dia 23, no Auditório Vera Janacópulos.
O evento teve início com apresentação musical do professor Luiz Otávio Braga, do Instituto Villa-Lobos (IVL). Com voz e violão, o docente interpretou canções de música popular brasileira.
Em seguida, o reitor, Luiz Pedro San Gil Jutuca, relembrou a assinatura do acordo de cooperação entre a UNIRIO e a Universidade de Bolonha, em março de 2013. “Hoje, temos a concretização desse simpósio internacional”, comemorou, ressaltando: “É muito interessante que as coisas aconteçam, para que nós não tenhamos, apenas, um acordo de gaveta”.
À mesa de abertura também estavam presentes o vice-reitor, Ricardo Cardoso, a diretora do Instituto de Saúde Coletiva (ISC), Ana Maria Wandelli, o pró-reitor de Graduação, Alcides Guarino, e o pró-reitor de Extensão e Cultura, Paulo Marcellini.
Participaram, ainda, a pró-reitora de Assuntos Estudantis, Mônica Valle, o diretor de Pesquisa da UNIRIO, Anderson Teodoro, o decano do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Agostinho Ascenção, e o professor Ardigó Martino, da Universidade de Bolonha e do Laboratório Ítalo-Brasileiro.
Migrações
Abrindo a discussão, o antropólogo Ivo Quaranta falou sobre a relação entre direitos humanos e Estados Nacionais que, segundo ele, “passa por uma crise sem precedentes”. Diretor do Centro de Estudos e Pesquisa em Saúde Internacional e Intercultural da Universidade de Bolonha, o pesquisador enfatizou que os Estados produzem políticas que atacam os direitos humanos, ameaçando os próprios regimes democráticos.
“São políticas violentas, estabelecendo uma distinção entre pessoas dignas e não dignas: vidas que importam e que não importam”, salientou, apontando o contexto da imigração nos Estados Unidos e na Europa. Segundo o professor, estudos mostram uma mudança na política imigratória na Europa, nos final dos anos 90: “Começam-se a acolher livremente pessoas cujas vidas estão em risco, os refugiados”.
Para ele, essa postura coloca em análise o sofrimento, sem considerar as suas causas. “É uma lógica que cuida do produto, mas ignora o processo que o gera”, aponta. “O que produz as migrações, senão as grandes desigualdades entre países?”, questionou.
Também presente à mesa, o professor Ardigó Martino abordou o mesmo tema. De acordo com ele, uma estratégia atualmente utilizada é deixar que os imigrantes morram no mar. Segundo esse raciocínio, “se eles conseguirem entender que não vão conseguir entrar e vão morrer no mar, mais imigrantes deixarão de vir”.
O pesquisador tratou, ainda, da questão da saúde, “direito humano fundamental, que deveria ter ligação com os direitos dos imigrantes”. Para ele, após o ataque às torres gêmeas, em 2001, criou-se uma situação ilógica em que seria necessário “restringir direitos para defender direitos”. Nesse contexto, vieram a Guerra do Iraque – com a justificativa de “salvar vidas” –, a autorização de Guantánamo, e começou a se falar novamente em tortura, com as notícias sobre Abu Ghraib.
Ética e saúde
A coordenadora da Residência Multiprofissional em Saúde Mental do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Maria Paula Cerqueira Gomes, falou sobre a universidade como instrumento de resistência frente aos retrocessos sociais. “Quando cada um de nós se forma, o diploma nos confere uma responsabilidade política, ética e social”, destacou.
Para ela, a resistência é fundamental diante de fenômenos como a volta das internações em hospitais psiquiátricos e a autorização de eletrochoque dentro das unidades. “Temos que pensar sobre a responsabilidade que nos cabe nessa disputa de narrativas”, enfatizou.
Já o médico e pesquisador do Núcleo de Bioética e Ética Aplicada da UFRJ Reinaldo Guimarães fez uma revisão histórica desde a Guerra Fria. Segundo ele, entre os problemas atuais na área da saúde estão os dilemas éticos – como, por exemplo, o imperativo tecnológico. “O aumento de custos deriva, fundamentalmente, da dinâmica tecnológica”, apontou.
Para o palestrante, é preciso avaliar o papel das tecnologias no sistema de saúde. “Hoje, cada vez mais, se vê a incorporação, a dinâmica tecnológica governando o sistema de saúde: é o rabo abanando o cachorro”, concluiu.
A mesa-redonda foi coordenada pela professora Cristiane de Oliveira Novaes, vice-coordenadora do ISC.