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HUGG recebe homenagem pública: “Algumas pessoas não entendiam agradecermos com meu pai tendo morrido. Mas ele não morreu por causa do hospital, o HUGG não teve culpa na morte dele. Foi o contrário. Prolongaram ao máximo e quando não dava mais, amenizaram"

Gratidão. Um sentimento importante e bastante compartilhado, mas que, em geral, vem acompanhado de algum objetivo material alcançado. No caso de um hospital, tal retorno se dá, normalmente, após a cura de uma enfermidade ou da alta de um paciente. Mas a visita da família de José Carreira, 81, no início de setembro, ao Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG), da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), deu um significado diferente aos que presenciaram o reconhecimento, por meio de uma faixa estendida nas imediações da unidade, prestado às equipes da unidade hospitalar. 

"Seu Carreira", "Zé" ou "Zeca", como era carinhosamente chamado pelos mais próximos, era paciente oncológico do HUGG desde o final de 2017 e foi internado, novamente, durante a pandemia do novo coronavírus: 

- Começamos a luta em 2017, ainda em Saquarema. No mesmo ano viemos fazer a biopsia, que deu positivo, no HUGG, e a partir de então continuamos o tratamento aqui. Inicialmente, após as sessões de quimioterapia, ele melhorou e teve alta. Só que em 2019 o linfoma voltou mais forte e meu pai foi internado novamente -, informou o filho, motorista, José Carreira Júnior. 

Após o diagnóstico, em uma fase avançada de tumor e já sem possibilidade de cura, apresentou-se a proposta de um tratamento paliativo: 

- Protocolos existem para uma série de doenças, conceitos grandes. Mas a gente vive em uma sociedade que não nos ensina a morrer, e temos de aprender a lidar com a morte todo dia.  Quando a Medicina não consegue mais lutar contra, temos de criar um ambiente que dê conforto ao paciente e aos seus familiares e isso talvez seja o mais difícil, pois você tem de entrar na cultura individual dos membros da equipe e na cultura da família. Além disso, temos que acertar a linguagem e a comunicação utilizadas nesse momento delicado. Isso é cuidado paliativo -, explicou o professor de clínica médica, da Escola de Medicina e Cirurgia (EMC) , Max Kopti Fakoury.

- Nunca tinha ouvido falar em cuidado paliativo. A princípio ainda tínhamos esperança, mas depois fui saber que quando chega a esse estágio não tem mais volta. Não foi fantasioso. Ajuda, inclusive, a enfrentar melhor, pois você passa a saber o que vai acontecer. Meu próprio pai, que sempre encarou tudo com força, no início dessa nova etapa ficou abalado. Depois percebemos que se tratava de um carinho a mais -, disse Carreira Júnior. 

Dia dos Pais

Viver por princípios e não por protocolos é o lema dos profissionais responsáveis pela Comissão de Cuidados Paliativos (CPP), atuante no HUGG desde 2017. Como parte do processo para dar qualidade de vida e aconchego, a equipe multiprofissional do CPP, formada por peritos de todas as áreas hospitalares, passou a atuar diretamente com a família e o paciente:

- A internação ocorreu pouco antes do Dia dos Pais deste ano. Como sabíamos que poderia ser o último, fizemos o possível, contando com o auxílio das demais equipes do HUGG, para podermos liberar o senhor José. Todas as orientações foram dadas para ele e para a família. As medicações possíveis para amenizar os sintomas foram feitas, e o acompanhamento adequado foi estruturado -, atestou o docente. 

-Na nossa cabeça, no Dia dos Pais, acreditávamos que ele deveria ficar no HUGG para receber cuidados. Entretanto, a equipe de cuidados paliativos nos indicou o contrário. E foi a melhor coisa que ocorreu. Foi uma data especial. Somos muito gratos às equipes do hospital que fizeram o possível para nos proporcionar esse momento. Ia ser muito complicado passar um evento como esse com a família separada. Vou carregar isso para sempre comigo -, informou Sérgio Carreira, motorista e  também filho de José Carreira. 

- No Dia dos Pais ele estava tranquilo, consciente do que ia acontecer. Bastante feliz, até porque ia ter a chance de se reunir com todo mundo da família. Ele se declarou muito, chorou, lembrou histórias antigas, dizia estar feliz por não passar por aquele momento sozinho -, completou Carreira Júnior. 

Após a data celebrada em família, “Zé” retornou para uma consulta, já em uma condição mais frágil. Mesmo assim, bastante agradecido pelo momento inesquecível que tivera com seus parentes. Novamente, as equipes multiprofissionais do HUGG agiram para tornar aquela passagem tranquilizadora, garantindo lucidez durante a reinternação para a despedida em família, mesmo em época de pandemia:

- A pandemia limita o acesso, ainda assim conseguimos montar uma estrutura entre a equipe de enfermagem, a equipe médica e os familiares para que todos pudessem visitá-lo. Aprendemos muito com ele. Seus momentos finais foram com muito carinho, amor e as pessoas certas por perto. Ele chegou a falar que havia chegado sua hora. Só agradecia, o tempo todo era de gratidão -, falou Fakoury.

- Ele falava que o hospital era um local maravilhoso, dizia que era tratado como uma pessoa importantíssima, que ia por lazer. Nunca pensou em morrer assim, na verdade. Nunca deixou de dançar, de sair. Aproveitou muito -, afirmou Magnólia Carreira, esposa há quase 50 anos de José Carreira.

- Meu pai era esperançoso, feliz, via tudo com bons olhos. Deixou o ensinamento da importância da família, de estarmos juntos, de nos ajudarmos, de não ter atrito desnecessário. Ele sentiu, principalmente nesses momentos finais, que a família era o maior alicerce. Ficávamos o tempo inteiro aqui. Geralmente é o contrário, as pessoas brigam para quem tem de ficar com o doente, a gente brigava para não ter de sair de perto dele. Queríamos aproveitar o máximo possível.  Por isso somos tão gratos ao HUGG, por ter nos proporcionado exatamente o que ele desejava-, contou Andreia Carreira, esteticista, e filha de José Carreira.

- Ele foi uma referência de pai, pois trouxe esse preenchimento quando mais precisei, sempre muito parceiro, conversava muito. Queria sempre ter autonomia. Batalhou até o fim. Sou grato a Deus por terem me aceitado, me ensinado a ser mais humano, a ser mais família, a ter essa proximidade, essa ajuda mútua. Os momentos que passamos aqui, apesar de doloridos, foram fundamentais para nos fortalecer e ajudar a completar essa passagem. No fim ele me disse que me adotou como filho. Não tenho palavras para definir esse momento. Ele foi demais -, reforçou Luciano Rodrigues, empresário  e cunhado de José Carreira.

Homenagem

E foi justamente a partir desse novo sentimento que a família resolveu retribuir o carinho que os profissionais do HUGG dispensaram ao patriarca da família, marido exemplar, ex-maratonista e dançarino incansável. Confeccionaram uma faixa e viajaram, em peso, de Saquarema ao Rio de Janeiro, ainda de madrugada:

- Estávamos frequentando mais que o normal o hospital, mas víamos muitas pessoas falando mal daqui e isso não era verdade. Sempre que precisávamos, alguém aparecia para nos socorrer. Resolvemos fazer essa faixa, já que não tínhamos como retribuir de outras maneiras. Os profissionais nos atendiam nos finais de semana, sem nunca reclamar, pelo telefone, inclusive. Quando escrevi o agradecimento, saiu naturalmente, como se estivesse possuído por uma força do bem. Uma lembrança que guardarei para sempre é de um momento em que meu pai já muito debilitado foi confortado com um afago na cabeça por uma médica. Carinho puro, isso não tem preço -, recordou José Carreira Júnior.

- Esse hospital nos fez ter mais três anos de felicidade com meu pai. Esse hospital fez isso pra gente. A gente sabe de casos de pessoas que não duram esse tempo com câncer. Ele tinha o HUGG como o porto seguro dele. Ele não tinha receio de vir. Tínhamos que mostrar a todo mundo que existe hospital público bom, com bons profissionais -, disse Sérgio Carreira.

- A atitude da faixa foi de coração, queríamos agradecer a todos, do pessoal dos serviços gerais aos médicos. Queremos que essa mensagem chegue a todos os profissionais da Saúde para eles saberem que vale a pena. E a gente é grato por tudo que o HUGG fez -, complementou Andrea Carreira.

- Fechamos nosso ciclo com aquela faixa. Algumas pessoas não entendiam a gente agradecer com meu pai tendo morrido. Mas ele não morreu por causa do hospital, o HUGG não teve culpa na morte dele. Foi o contrário. Prolongaram ao máximo e quando não dava mais, amenizaram a dor -, emendou, mais uma vez, José Carreira Júnior.

E se um ciclo é fechado, outros se abrem. Caio Carreira, 15, estudante, pretende seguir os ensinamentos deixados pelo avô, eternizando desta maneira José Carreira:

- Meu avô sempre me ensinou a fazer as coisas certas. Nos últimos momentos conversávamos bastante, já que minha mãe ia trabalhar e eu cuidava dele. Ficamos muito próximos. Daí ele me contava muitas histórias antigas. Ensinou-me a ter disciplina, me cobrava muito, para ser atleta igual a ele e esse é meu desejo. Um homem maravilhoso. Vai ser para sempre meu exemplo -, concluiu o estudante.

José Carreira deixa o legado também para sua esposa, aposentada, Magnólia Carreira; os filhos: José Carreira Júnior, motorista, Sérgio Carreira, motorista, Alessandro Carreira, soldador, e Andrea Carreira, esteticista; os netos: Caio Carreira, Milena Carreira e José Vitor Carreira, estudantes; e todos os demais parentes e amigos que ao seu lado combateram o bom combate.

Serviços

Para ser atendido no Hospital Universitário Gaffrée e Guinle, o usuário deverá seguir o procedimento padrão: O paciente deve procurar uma Unidade Básica de Saúde (Clínica da Família do seu Município ou Posto de Saúde) próxima da sua residência. O paciente informa no atendimento da Unidade Básica de Saúde Pública a sua situação de saúde. A Unidade Básica de Saúde poderá agendar a consulta por meio de um sistema informatizado chamado SISREG (Sistema de Regulação).