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Comunicações - Terça-feira, 15/05/2018 - Sala 3

14:00 – Considerações sobre o processo composicional do Quarteto nº 2 a partir de relações intertextuais com Villa-Lobos
Alexandre de Paula Schubert – UNIRIO
No presente artigo apresentamos o processo composicional do Quarteto nº 2, de minha autoria, tendo em vista suas relações intertextuais com os quartetos de cordas 1, 6 e 14 de Heitor Villa-Lobos, que são objetos de minha pesquisa de doutorado em andamento. Discutimos as possibilidades do uso da textura musical como elemento referencial para a estruturação de uma nova obra a partir desses mesmos quartetos. Inicialmente, fizemos uma breve revisão da literatura sobre intertextualidade musical, apresentando conceitos desenvolvidos por Hatten, Barbosa e Barrenechea, Lima e Pitombeira e Dudeque, e sobre textura musical, apresentando conceitos de Berry e a contribuição de Levy sobre textura e forma, tendo em vista sua utilização no processo criativo da composição do Quarteto nº 2. Discutimos, em seguida, os diversos elementos provenientes da obra de Villa-Lobos para quarteto de cordas que foram utilizados na composição da nova obra, apresentando exemplos musicais e relacionando-os com os diversos tipos de intertextualidade. Assim, a estrutura formal em multimovimentos, o uso da forma livre, rapsódica, o uso de gesto formado por linhas em movimento contrário, a citação direta de motivo, o uso de texturas polifônicas imitativas com densidades diferentes, o uso do timbre específico da surdina e do violoncelo como condutor melódico e o uso de elementos relacionados com aspectos quantitativos e qualitativos texturais em um nível profundo, provenientes dos quartetos de cordas de Villa-Lobos foram importantes referências na concepção e realização da composição do Quarteto nº 2. Finalizamos apresentando possíveis desdobramentos do trabalho, sejam eles referentes à composição de novas obras para formações diferentes, a partir do uso de material proveniente da obra de Villa-Lobos, ou à composição de novos quartetos de cordas, utilizando outros compositores como referência.
Palavras-chave: quarteto de cordas; Villa-Lobos; intertextualidade; textura; composição.

14:25 – As influências dos 24 Caprichos, op. 1 de Nicolò Paganini nos Caprichos para violino solo de Marcos Salles
Álisson Carvalho Berbert – UNIRIO
O presente artigo investiga as influências inovadoras de Nicolò Paganini, representadas pelos seus 24 Caprichos, op. 1, na composição intitulada Caprichos para violino solo do brasileiro Marcos Salles. As principais características do estilo técnico paganiniano foram identificadas a partir de revisão bibliográfica e utilizadas como critérios para a análise. Com o objetivo de evidenciar as implicações da escrita de Paganini na obra de Salles, utilizamos como ferramenta a análise comparativa entre as composições selecionadas. Observamos que os principais elementos do estilo paganiniano estão presentes na obra de Marcos Salles. Apesar de Salles demonstrar uma aplicação ainda conservadora quanto à utilização do registro agudo do violino em comparação com os 24 Caprichos de Paganini, observa-se a presença de harmônicos artificiais simples e duplos nos Caprichos de Marcos Salles, fato que não é verificado na obra paganiniana. Por fim, devido à diversidade técnico-violinística, que demonstra o domínio instrumental do performer, e à importância histórica da obra, entendemos ser pertinente o incentivo à performance desta composição brasileira, ainda pouco valorizada e tocada.
Palavras-chave: Caprichos; Nicolò Paganini; Marcos Salles; Violino; Análise comparativa.

14:50 – Intertextualidade em Canticum Naturale, de Edino Krieger
Julio Cesar Damaceno – UDESC
Este trabalho apresenta parcialmente uma pesquisa em andamento cujo objetivo é uma análise da peça sinfônica Canticum Naturale, de Edino Krieger. Considerando o caráter mimético da obra, baseada na emulação da paisagem sonora da Floresta Amazônica, o ponto central desta proposta de análise é a articulação entre uma abordagem estrutural, com foco nos materiais sonoros e técnicas composicionais empregadas, e a consideração das referências presentes na obra a cantos de pássaros, às águas de um rio e ao canto de sereias. Tendo em vista tal articulação, bem como o escopo deste artigo, serão apresentadas aqui, além de um breve resumo biográfico sobre o compositor e uma contextualização da peça, algumas considerações a respeito das relações intertextuais e da utilização de tópicas no discurso musical de Canticum Naturale.
Palavras-chave: Musicologia; Música Brasileira; Intertextualidade.

15:15 – Mapeamento dos processos composicionais na Sonata para Violino Op.14 de Leopoldo Miguéz
Desirée Johanna Mesquita Mayr – UFRJ
Este artigo, integrando uma pesquisa de doutorado em andamento, apresenta referencial teórico (CAPLIN, 1998; KOPP, 2002; HEPOKOSKY e DARCY, 2006), metodologia e principais resultados de uma análise estrutural (considerando macro e microformas e relações tonais) da Sonata para Violino Op.14 de Leopoldo Miguéz. Tal estudo tem como principal propósito, considerando os objetivos da pesquisa, fornecer uma adequada contextualização formal e tonal para uma detalhada análise das relações derivativas que conectam as ideias temáticas, o que será realizado tomando como comparação outra obra de mesmo gênero contemporânea, a sonata Op.78 de Brahms (omitida neste trabalho). A análise estrutural da sonata de Miguéz, cujos resultados são sumarizados no presente artigo, revela não apenas uma organização formal-tonal de considerável complexidade e consistente em relação à prática romântica tardia, como procedimentos composicionais peculiares, aos quais é também possível acrescentar aspectos sintonizados com procedimentos não normativos (deformations, de acordo com Hepokosky e Darcy, 2006) compartilhados por outros compositores românticos europeus.
Palavras-chave: Sonata Op.14 de Leopoldo Miguéz; análise estrutural; estilo romântico.

15:40 – Coffee break

16:05 – Os Processos Composicionais de Theodoro Nogueira no ciclo dos 12 Improvisos para Violão Solo
Laís Domingues Fujiyama – UFG
O presente artigo faz parte de uma dissertação em andamento que tem como objetivo investigar os aspectos composicionais e idiomáticos de Theodoro Nogueira nos 12 Improvisos para violão solo. Violinista de formação este paulista de Santa Rita do Passa Quatro teve uma carreira longa e prolífica, escrevendo para diversas formações instrumentais. O início de sua carreira como compositor chamou atenção da crítica paulista devido a classificação do seu Quarteto nº 1 para cordas entre as 18 melhores peças do Concurso Internacional do Ministério de Instrução de Belas Artes da Bélgica, sendo gravada pelo Quarteto Municipal de Liège. Na década de 50 teve aulas com Mozart Camargo Guarnieri e foi orquestrador da Rádio Gazeta trabalhando diretamente com o maestro Souza Lima, neste período compôs 12 Improvisos para violão solo e na década seguinte teve sua obra violonística gravada em LP por Geraldo Ribeiro, que também foi seu aluno de composição. Sendo os 12 Improvisos uma obra composta próxima ao período em que Nogueira obteve aulas com Guarnieri optamos por uma metodologia que contemplasse a estética nacionalista/guarnieriana, ou seja, qual a influência composicional que Guarnieri exerceu (se exerceu) nestas peças; as críticas dos violonistas que gravaram este ciclo – entrevistas com Geraldo Ribeiro e Gilson Antunes, e por fim, a nossa análise estrutural de cada Improviso fundamentada nos autores WHITE (1976) e SCHOENBERG (2011). Os processos composicionais de Nogueira são resultados do confronto entre todos os objetos metodológicos supracitados e descritos através de exemplos musicais do ciclo, também resumimos de maneira quantitativa numa tabela a recorrência dos processos composicionais considerando a obra completa dos 12 Improvisos. Esperamos que esta pesquisa incentive a busca pelo repertório deste compositor não apenas para violão como para outros instrumentos e formações, impulsionando o fomento do repertorio nacionalista brasileiro.
Palavras-chave: Theodoro Nogueira; 12 Improvisos; processos composicionais; violão solo.

16:30 – Procura-se Igor: a transcrição como ferramenta analítica no contexto de uma pesquisa comparativa
Mauricio José da Silva Figueiredo – UNICAMP
O ponto focal deste estudo é o emprego da transcrição como uma ferramenta analítica. O texto descreve a composição Igor, gravada em 1946 por Woody Herman and his woodchoppers, através de especificidades de seu contexto histórico e de sua criação/realização. É também apresentada neste trabalho uma breve descrição das ferramentas de transcrição assistidas por computador, bem como o perfil de trabalhos acadêmicos envolvendo processos e metodologias de transcrição, a destacar: aqueles de cunho pedagógico, aqueles de cunho analítico, e aqueles acerca de escuta de máquina e Music Information Retrieval (MIR). São apresentados ainda, alguns procedimentos utilizando-se de ferramentas assistidas por computador, essenciais à análise de Igor. A análise empregada na peça Igor demonstra como, neste caso específico, a transcrição a partir de três fonogramas da mesma composição mostrou-se mais adequada para as análises do que partituras direcionadas essencialmente à performance. Este estudo apresenta ainda a transcrição de um trecho seguindo os procedimentos detalhados anteriormente. A partitura produzida através desse método é objeto de análise neste estudo. Destaca-se aqui as diferenças que envolvem uma partitura para fins de execução em performance e àquelas destinadas/criadas com finalidade analítica. São pontos de interesse para esta análise: as escolhas formais dos compositores/arranjadores, o tratamento textural, recursos de variação motívica, as escolhas instrumentais e a discussão entre forma aberta, escrita prescritiva e head arrangements.
Palavras-chave: Woody Herman; Transcrição; Igor; Análise.

16:55 – Uma breve história da música: análise da escritura heterofônica em Coro, de Luciano Berio
Paulo Agenor Miranda – UNESP
Referindo-se à estratégia stravinskiana em estabelecer meditações sobre a história, Berio destaca em Agon a parábola que se desenrola de uma “breve história da música”. Ressoando em sua própria poética, a relação oblíqua entre uma aguçada consciência histórica e a propensão à experimentação escritural revela-se como uma estrutura arquetípica beriana. Em Coro, tal aspecto delineia-se em contínuos entre diferentes realidades musicais, i.e., um coro de técnicas e modelos composicionais tomados por Berio e que confronta sua experiência serial com a pesquisa de novos materiais e processos musicais. Este artigo analisa a incorporação de elaborações advindas da música étnica da África Central na escritura de Coro, com o objetivo de expor interseções entre histórias da música alocadas em amplo espectro histórico-geográfico: a técnica heterofônica africana em contato com a prática ocidental pré-polifônica denominada hoquetus; e a utilização de materiais harmônicos advindos da música macedônia sob processos de elaboração tipicamente pós-seriais. O corpus da análise concentra-se nas elaborações heterofônicas do episódio central da obra (XVI) e em apontamentos de outras seções a ele relacionadas. Dentre as reflexões suscitadas, apontam-se: a cromatização do material harmônico sobre o qual emergem as texturas heterofônicas de Coro, através da conexão dessa técnica com melodias tomadas de outra tradição popular; a elaboração engenhosa do campo harmônico advindo dessas melodias étnicas a partir de princípios pós-seriais de fixação das alturas no registro e movimento pendular da linha; o manejo da heterofonia a partir de uma estrutura subjacente que tem no contraponto canônico seu fundamento, resultando em uma textura heterofônica polifonicamente concebida; a polarização desse tecido resultante em torno de uma entidade harmônica que, embora derivada de uma melodia macedônia e submetida a processos composicionais historicamente distintos, advém da própria pesquisa harmônica de Berio.
Palavras-chave: Análise Musical; Luciano Berio; Coro; Heterofonia; Hoquetus.

17:20 – Uma Introdução ao Pensamento Sobre a Ideia Musical a Partir de Deleuze, Boulez e Stravinsky
Bruno Maia de Azevedo Py – UNIRIO
Uma ideia musical normalmente é reconhecida como tal depois de sua concepção e utilização numa obra. O presente artigo pretende lançar um outro olhar para o processo criativo a partir de comentários de compositores inseridos em determinada tradição, com o propósito de pensar sobre o momento (ou o lugar) da gênese da ideia. Este acontecimento é constantemente cercado de mistérios e incertezas, como podemos observar na fala dos próprios compositores - Pierre Boulez e Igor Stravinsky falam abertamente sobre o tema, sobretudo na bibliografia selecionada. O pensamento criativo também é tema recorrente na obra do filósofo francês Gilles Deleuze, o que faz dele um importante aliado na busca por um melhor entendimento de tudo o que envolve a principal atividade do compositor, que é compor música. Para Deleuze, ter uma ideia é algo raro e está sempre relacionada a um domínio do pensamento, a uma forma específica de expressão - não existe uma ideia em geral. Neste sentido, ter uma ideia musical significa, frequentemente, pensar com sons. A ideia, por sua vez, não é alguma coisa que já se encontra no mundo sob uma forma organizada ou pré-estabelecida. Ela precisa ser criada, daí a dificuldade em entender o seu fundamento. Para Deleuze, este acontecimento, a gênese da ideia, se dá a partir do enfrentamento do caos e de uma atitude de resistência diante das forças de conservação no mundo. E isto envolve o compositor numa aparente contradição. É necessário um conhecimento profundo das tradições e técnicas, ao mesmo tempo em que é fundamental se desligar de todo conhecimento e reconhecimento para que a ideia apareça.
Palavras-chave: Ideia Musical; Composição; Deleuze; Música; Filosofia.