Estudo da UNIRIO revela alterações cognitivas em doentes renais crônicos
Pacientes renais crônicos apresentam alterações cognitivas nos instantes que antecedem a realização da hemodiálise. O achado foi divulgado por pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Neurociências (PPGNeuro) da UNIRIO, em artigo publicado no periódico Journal of Nephrology.
Participaram da pesquisa 110 pacientes, de 18 a 65 anos, de duas clínicas de hemodiálise do Rio de Janeiro. Cada um deles é regularmente submetido a três sessões semanais do tratamento. A seleção dos participantes foi feita por profissionais de psicologia, priorizando os pacientes com resultados de exames laboratoriais mais estáveis e excluindo aqueles que apresentavam déficits cognitivos graves.
Imediatamente antes de iniciarem a sessão de diálise, os participantes foram submetidos ao Teste Computadorizado de Atenção Visual (TCAV), desenvolvido na década de 1980 e utilizado em avaliações neuropsicológicas para medir a capacidade de atenção.
O teste teve duração de 15 minutos. Durante esse tempo, a cada segundo, foi mostrada a ilustração de um losango ou de uma estrela na tela do computador, sendo a estrela o “alvo” a ser indicado. Quando esse alvo aparecia, a pessoa deveria pressionar a “barra de espaço” no teclado. O método permite medir variáveis como tempo de reação a estímulos e taxa de omissão (quando a tecla não é pressionada, mas deveria ser) e comissão (quando a tecla é erroneamente pressionada).
A comparação com o grupo controle, submetido ao mesmo teste, revelou aumento estatisticamente significativo no tempo de reação, que determina a capacidade de sustentar a atenção e a acurácia de resposta a estímulos. Segundo o professor Mario Meyer Rodrigues Fernandes, nefrologista e principal autor do estudo, essa alteração cognitiva pode levar à piora da qualidade de vida do paciente e ao aumento do risco de morte. “A atenção prejudicada tem potencial para afetar a capacidade de direção de veículos e elevar o risco de quedas, por exemplo”, aponta.
A hemodiálise tem a função de filtragem sanguínea, eliminando do organismo substâncias tóxicas provenientes do metabolismo. De acordo com o docente, o prejuízo atencional se deve, entre outros possíveis fatores, à elevação da taxa de ureia no sangue – condição conhecida como “uremia”. “O estudo evidencia que os pacientes sofrem alterações cognitivas mesmo dialisando”, ressalta o especialista, salientando a importância do estímulo ao transplante renal.
Futuramente, o estudo poderá embasar modificações no tratamento de doentes renais crônicos. Entre as possibilidades, há a redução no intervalo de tempo entre as sessões, a melhoria da qualidade do aparelho dialisador e o maior incentivo à realização do transplante. A pesquisa prosseguirá, com a avaliação cognitiva dos pacientes imediatamente após realizarem a hemodiálise e posteriormente, já transplantados.
(Gabriella Praça/UNIRIO)