Estudo revela perda de habitat de minhocas expostas a rejeitos da barragem de Brumadinho
Minhocas expostas ao rejeitos da barragem que se rompeu em janeiro de 2019, em Brumadinho (MG), apresentam comportamento de fuga do ambiente contaminado. O fenômeno é apontado em nota técnica produzida no âmbito do Estudo sobre a biota aquática e comunidades ripárias, do qual participa o professor Fabio Veríssimo, do Instituto de Biociências da UNIRIO.
As amostras de solo superficial e de rejeitos da barragem utilizadas nos experimentos foram coletadas por uma equipe de pesquisadores nos dias 12 e 13 de junho de 2019. Os organismos utilizados foram minhocas da espécie Eisenia andrei, bioindicador internacionalmente padronizado para ensaios ecotoxicológicos.
O teste de fuga, de caráter comportamental, consistiu na exposição das minhocas a duas porções de solo, em um recipiente de dois litros, sendo uma delas composta apenas por solo natural e a outra contendo também rejeitos, em diferentes proporções. O resultado apontou uma taxa de evasão superior a 80% a partir da adição de 37,5% de rejeitos, indicando a perda de habitat das minhocas. “O organismo está se esquivando do local contaminado, e o efeito de fuga tem sido considerado como um dos indicadores mais sensíveis na avaliação de ambientes desfavoráveis ao desenvolvimento da biota do solo”, salienta o professor Veríssimo.
Reprodução prejudicada
Foram realizados também ensaios para avaliação de efeitos agudos e crônicos da exposição ao material. Embora não se tenha verificado aumento na taxa de letalidade dos animais, observou-se a tendência à redução do número de indivíduos juvenis em relação à quantidade de casulos. Segundo o estudo, essa diminuição pode indicar a produção de casulos inviáveis, ou a ocorrência de condições ambientais inadequadas à eclosão e à sobrevivência de jovens indivíduos.
De acordo com Veríssimo, a próxima fase da pesquisa se voltará para a investigação dos efeitos subletais. “As minhocas serão expostas por um período mais prolongado, sob concentrações mais baixas do rejeito que não promovam a fuga dos organismos, onde o efeito do contato continuo ao solo contaminado será avaliado por análises das enzimas de estresse oxidativo, níveis proteicos, e análise quantitava e qualitativa das células do sistema imune”, revela.
O estudo é coordenado pelo Núcleo Rogério Valle de Produção Sustentável, do Laboratório de Sistemas Avançados de Gestão de Produção (Sage) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ele integra o projeto Impactos ambientais da ruptura da barragem de rejeitos de Brumadinho nos primeiros doze meses após o desastre: avaliação da qualidade da água, de rejeitos, solos e sedimentos e da biota aquática e comunidades ripárias no Rio Paraopeba, conduzido pela Coppe/UFRJ com apoio da Fundação Coppetec e da Vale S/A.